“SPQR – Uma história da Roma antiga”, de Mary Beard
História

“SPQR – Uma história da Roma antiga”, de Mary Beard

24 de junho de 2018 0

Uma pequena decepção que tive com este ótimo “SPQR – Uma história da Roma antiga”, da historiadora inglesa Mary Beard (Editorial Crítica, 576 páginas), é que a história contada no livro termina em 212 d.C., quando o então Imperador Caracala decretou que todos os habitantes livres do Império Romano, onde quer que vivessem, seriam, a partir de então, cidadãos romanos. O Império Romano do Ocidente, como se sabe, só caiu mais de dois séculos mais tarde, em 476 d.C. – e este intervalo restante de tempo não é coberto pela obra.

Mas a decepção, como comentei, foi pequena: o livro é ótimo. Do período inicial, com a fundação por Rômulo e Remo e os reis que os sucederam, envoltos em lendas, passando pelo período republicano e o Império – que começou com Augusto aí pelo ano 27 a.C. -, até o decreto de Caracala citado acima, o painel pintado por Mary Beard é fascinante.

Entre as coisas que me chamaram a atenção, posso destacar o fato de que o mito fundador da história romana – os irmãos Rômulo e Remo e a loba que os sustentou – e seu código legal inicial, as Doze Tábuas da Lei, simplesmente foram esquecidas no Ocidente devido à influência judaico-cristã: é só comparar a importância cultural e religiosa, nos dias de hoje, de Rômulo e Remo com Adão e Eva, e das Doze Tábuas da Lei com os Dez Mandamentos, para se ter uma ideia do que estou falando.

Outra coisa, que me chama a atenção no período romano e que a leitura de “SPQR – Uma história da Roma antiga” só fez reforçar é como este período, em termos de costumes e mentalidades, é ao mesmo tempo tão próximo e tão distante do nosso: do mesmo modo que os romanos tinham escravos e outros costumes horrendos – como deixar recém-nascidos indesejados para morrer no lixo e as lutas de gladiadores –, eles eram extremamente sofisticados em termos de filosofia, literatura e direito. Mesmo a sua ética é, ao mesmo tempo, próxima e distante da nossa. Conforme comenta a autora no final do seu livro,

“Para mim, tanto para qualquer outra pessoa, os romanos não são apenas um tema de história e pesquisa, mas sim de imaginação e fantasia, horror e diversão.”

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