“Jacques, o Fatalista, e o Seu Amo”, de Denis Diderot
Literatura

“Jacques, o Fatalista, e o Seu Amo”, de Denis Diderot

10 de dezembro de 2017 0

Eu ainda não li “A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy”, do inglês Laurence Sterne (1713-1768), o que é meio vergonhoso. Explico: sua influência em dois dos meus escritores preferidos, Machado de Assis e Denis Diderot, é tão evidente – e assumida pelos autores – que eu acho que eu deveria ter lido o romance. Enfim, é fato conhecido que o estilo coloquial, cheio de comentários paralelos, muitas vezes falando diretamente com o leitor, de Machado de Assis em livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é totalmente emulado do inglês. O mesmo com este delicioso “Jacques, o Fatalista, e o Seu Amo”, do enciclopedista francês Denis Diderot (1713-1784), que chega a citar o “Tristam Shandy” algumas vezes na obra.

O romance conta uma viagem de Jacques e seu patrão: o empregado, que acredita que tudo o que acontece aqui já estava escrito “lá em cima”, é muito mais inteligente e esperto que o chefe – o que chega a causar uma desavença entre os dois, quando Jacques declara que ele sempre vai ser lembrado com mais reverência que o amo, e por isso não iria fazer um favor que o patrão lhe tinha pedido.

Na viagem, que o autor faz questão de dizer que não lhe interessa saber nem por onde começou nem em que cidade terminou, amo e criado conversam durante boa parte do tempo, não só entre si como com outras pessoas – notadamente uma estalajadeira tão esperta quanto Jacques. O patrão quer que Jacques conte a história dos seus amores, e seguidamente acontece alguma coisa que atrapalha o seu desenrolar. Seja um cavalo roubado e recuperado, seja a história dos amores do próprio amo, seja outra história de Jacques e que nada tem a ver com os seus amores. E isto, claro, permeado de comentários do próprio Diderot ao leitor, se defendendo de possíveis queixas deste ou justificando uma ou outra decisão narrativa.

Segundo a nota de André Billy na minha edição de “Oeuvres” de Diderot (livro que eu gosto tanto que já escrevi um texto falando só sobre a edição), “Jacques, o Fatalista, e o Seu Amo” é, de todos os romances de Diderot, o mais fortemente marcado por seu humor pessoal, por seu espírito e por suas qualidades: desordem, licenças de escrita, digressões superpostas que causam alguma dificuldade para o leitor, e que o exemplo de Sterne deve ser visto como o principal responsável. Mas que tom! Que verve!”.

Eu não poderia concordar mais. Só falta ler o “Tristam Shandy” agora.

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