Valdez Vem Aí, de Elmore Leonard
Literatura

Valdez Vem Aí, de Elmore Leonard

15 de setembro de 2017 0

(Texto publicado em 2006 no Mondo Bacana)

Valdez Vem Aí (Editora Rocco, 218 páginas), do grande escritor de westerns Elmore Leonard, começa com um negro encurralado em sua própria casa por algumas pessoas – entre elas pistoleiros que o estão ameaçando porque o seu chefe, um tal de sr. Tanner, pensava que o homem acuado era um foragido do exército que tinha matado um de seus homens. Roberto Valdez, que representa a lei na aldeia onde estes acontecimentos ocorrem, aparece sem ser chamado. E ninguém dá bola para ele.

A situação se encontra em um impasse. O negro não sai da casa e, por estar armado, os pistoleiros e Tanner nem tentam entrar lá. No meio desta situação complicada, a mulher do encurralado, uma índia grávida, sem se dirigir aos presentes entra na residência.

Algum tempo depois Valdez consegue penetrar no local, conseguindo convencer o negro a ir para fora e se explicar. Quando saem da casa, os pistoleiros do sr. Tanner – que não sabiam da negociação – começam a disparar. Achando-se traído, o homem acuado tenta atirar em Valdez, que, em legítima defesa, dispara a arma e o mata.

Chamado a reconhecer o morto, sr. Tanner, na maior tranqüilidade, diz que se enganara: aquele não era o foragido que procurava. Uma pessoa tinha sido assassinada por engano e o chefe dos pistoleiros não estava nem aí.

Mas Valdez estava. Vai conversar com a índia e lhe promete quinhentos dólares para que ela pudesse sustentar o filho quando este nascesse. Ela é tão inexpressiva que mal consegue responder alguma coisa, mas Valdez leva a sério a promessa. À noite procura alguns dos que estavam presentes na caçada ao negro para tentar fazer uma vaquinha e dar dinheiro à índia. Todos riem dele e acabam aconselhando-o que ele procurasse o sr. Tanner – que morava com seus asseclas em um local um tanto distante da aldeia.

Decidido, o protagonista vai até lá – e é pessimamente recebido. Tanner recusa-se a pagar os quinhentos dólares e os seus pistoleiros, para assustar Valdez, atiram pesadamente perto do seu corpo, mas sem feri-lo. O homem da lei não chora, não implora. Apenas fica olhando, quase impassível, para aqueles que estavam disparando.

Mesmo sabendo que o pior poderia acontecer, Valdez volta no dia seguinte. Desta vez a recepção é pior. Ele acaba surrado e duas varas em forma de cruz são presas nas suas costas, de modo que só pudesse andar com grande dificuldade, sem poder olhar para cima. E é neste sofrimento extremo que ele é obrigado a sair da propriedade de Tanner. Mas Roberto Valdez não desiste e volta lá. Só que não vou contar mais nada para não estragar a surpresa. O que posso dizer é que é a aventura está só começando.

Em Valdez Vem Aí não há a preocupação de situar a história no tempo. O leitor só sabe que está no Velho Oeste por causa de alguns detalhes, como a ausência de veículos motorizados – o transporte por longas distâncias é sempre feito por tração animal. Os personagens principais são muito bem construídos e a personalidade deles é apresentada mais por atos do que por descrições minuciosas: Elmore Leonard não subestima a inteligência do leitor.

O livro mostra um Velho Oeste sem lei, onde o homem que a representa só tem poder na medida em que sabe atirar bem. Neste universo brutal, Valdez Vem Aí conta uma profunda história de moralidade e justiça. O protagonista tem consciência do que é certo e luta por isso – mas seu caminho é tão sangrento e a sua caracterização é tão bem feita, que em nenhum momento o livro esbarra na pieguice. E, por último mas não menos importante, Valdez Vem Aí é uma espetacular obra de aventuras, que prende completamente a atenção do leitor da primeira à última página.

Em resumo, esta é uma obra-prima da literatura de westerns

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