“Manson”, de Jeff Guinn
História

“Manson”, de Jeff Guinn

12 de janeiro de 2017 0

Segundo Jeff Guinn, o autor da brilhante biografia “Manson” (Darkside, 520 páginas), a persistência macabra da fama do assassino Charles Manson se deve ao fato de que ele e boa parte de seus seguidores ainda estão vivos, aparecendo na internet, presos e lutando por seus direitos à condicional. Do mesmo modo, o jornalista André Barcinski, no seu extinto blog no R7 (agora ele está no UOL) nunca entendeu o fascínio que este criminoso medíocre exerce sobre as pessoas. Discordo dos dois.

Nascido em 1934, Charles Manson só causou problemas por onde esteve. Passou grande parte da vida – antes dos crimes Tate-LaBianca, que trouxeram sua fama macabra – em presídios e reformatórios. Só se relacionava com as pessoas para o próprio proveito, sem se preocupar com as consequências que seus atos poderiam causar aos outros. Tinha pouco talento para música, um ego imenso e uma vontade incomensurável de fama e fortuna – mas não conseguiu nada disso.

No famoso “verão do amor de 67” na Califórnia, auge do movimento hippie, Charles Manson, recém-saído da cadeia, sem emprego e sem dinheiro, resolve inventar algumas ideias malucas para angariar seguidores. Logo arranja uma turma de rapazes e moças e vai morar com eles numa espécie de chácara, que era um antigo set de filmagem de westerns. Ele tinha controle total sobre o grupo: por exemplo, fazia com que as moças fossem revirar lixo atrás de comida, limpassem a casa e a louça, e que os rapazes consertassem as motos e carros (muitos deles roubados ou pegos de empréstimo e não devolvidos) e fizessem as reformas necessárias na casa. No final do dia distribuía LSD a todos e controlava até as relações sexuais que deveriam manter a seguir.

Para aumentar o poder sobre o grupo (que chegou a ter em torno de 40 pessoas) começou a inventar histórias malucas. Manson dizia a seus seguidores que era uma espécie de Cristo, e que o livro bíblico do Apocalipse previa o “Helter Skelter” – uma guerra racial entre negros e brancos que terminaria com a vitória dos negros. Só que, segundo a mente doentia do “guru”, estes não teriam capacidade de controlar o mundo e chamariam Manson e seus seguidores para que fossem os novos mandantes da humanidade.

Para acelerar o “Helter Skelter” (obviamente inspirado na música dos Beatles), Manson ordenou os crimes que mais tarde seriam chamados “Tate-LaBianca”: em 9 de agosto de 1969 foram assassinados a atriz Sharon Tate (de “Bebê de Rosimary”) na casa do marido dela, o diretor Roman Polanski (que estava viajando), e mais quatro amigos; no dia seguinte foi a vez do casal Rosemary e Leno LaBianca. Sete mortes horrendas (alguns dos assassinados levaram diversas facadas) em bairros ricos de Los Angeles e com toques teatrais: o sangue das vítimas foi usado para manchar as paredes das casas com termos como “Helter Skelter”, “Death to pigs” (“morte aos porcos”) e “Rise” (“subida”). Manson tinha tanto poder sobre seus seguidores que sequer entrou nas casas das vítimas nos dias dos assassinatos; de todo modo, tanto ele quanto os perpetradores dos crimes (“Tex” Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten) foram condenados à morte em 1971, comutada para prisão perpétua quando a Califórnia aboliu a pena capital, no ano seguinte.

Para mim, o que é realmente chocante em Charles Manson é que não se espera que hippies ajam assim: normalmente eles são sinônimo de “paz e amor”, e não dessa loucura sem sentido. É monstruoso pelo inesperado, como aqueles meninos de 11 anos que torturaram e mataram uma criança de 2 anos em 2002, na Inglaterra.

Para corroborar esta ideia, a foto que acompanha este texto mostra Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten durante o julgamento. Quem imaginaria que estas moças sorridentes fossem assassinas cruéis?

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