“Para Você não se Perder no Bairro”, de Patrick Modiano
Literatura

“Para Você não se Perder no Bairro”, de Patrick Modiano

28 de julho de 2016 0

A memória dos fatos ocorridos durante a ocupação nazista na França é o principal tema dos livros do escritor francês Patrick Modiano, vencedor do Prêmio Nobel de 2014 – e é também o tema de seu livro mais recente, “Para você não se perder no bairro” (também de 2014).

O livro conta a história de um escritor de meia-idade, Jean Daragane, que vive sozinho em Paris (cidade-sede da maioria dos enredos de Modiano, aliás). Um dia ele recebe um telefonema de Gilles Ottolini, um homem de cerca de 40 anos que tinha achado a agenda de Daragane numa estação em Lyon. Os dois acabam combinando um encontro num café para a devolução, e Ottolini leva junto sua namorada, Chantal Gripay, uma moça de cerca de 30 anos de idade. Lá o escritor descobre que Ottolini não está interessado apenas em devolver o objeto perdido de Daragane, mas também em obter informações sobre um tal de Guy Torstel para uma investigação policial privada. O número de telefone deste Torstel constava do objeto recuperado, mas Daragane já não lembrava dele, já que a agenda era muito antiga.

Aí a coisa começa a ficar estranha: Ottolini avisa Jean Daragane que o escritor tinha citado Guy Torstel em seu primeiro romance publicado, “No escuro do verão”. O problema é que o Daragane sequer se lembra direito do livro! Ottolini tinha preparado um verdadeiro dossiê sobre Torstel e outras pessoas ligadas a ele, com fotos e recortes de jornais, e envia o dossiê para Daragane, que começa a lembrar de um acontecimento ou outro. O livro é a história da procura do escritor atrás dos próprios recônditos escondidos de sua memória – que, como não poderia deixar de ser no caso de Modiano, tem ligações com a época da ocupação nazista da França. O desfecho da história – se é que se pode utilizar este termo quando se fala de uma obra com tantos assuntos que acabam em aberto – não vem senão na última página do livro. E este desfecho – como acontece frequentemente nos livros de outro francês laureado com o Prêmio Nobel, J.M.G. Le Clézio, vencedor em 2008 – é literalmente de arrepiar.

A todo momento surgem dicas que parecem meio sem função em “Para você não se perder no bairro”; além disso, frequentemente o leitor se sente meio perdido, já que as lembranças e os acontecimentos no livro dão saltos temporais às vezes bruscos. De todo modo, a obra parece mais concisa que as demais dele que eu li: é como se Modiano, com a chegada da maturidade – do mesmo modo que o nosso Dalton Trevisan – fosse tirando tudo o que não é essencial de suas histórias.

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