Joaquim Nabuco – Essencial
História

Joaquim Nabuco – Essencial

28 de março de 2016 0

Consta que Caetano Veloso ficou tão impressionado com a leitura das obras de Joaquim Nabuco (1848-1910) que se inspirou nelas para gravar um disco inteiro com a temática do abolicionismo e da escravidão, “Noites do Norte”, lançado no ano 2000. Dá para entender: a leitura de textos importantes do abolicionista, reunidos pelo grande historiador Evaldo Cabral de Mello em “Joaquim Nabuco – Essencial” (Companhia das Letras, 626 páginas), é espetacular em todos os sentidos.

O livro é dividido em “Textos abolicionistas” e “Textos políticos e historiográficos”. A segunda parte reúne escritos diversos feitos ao longo da vida do político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista pernambucano (ufa). Os temas vão da intervenção estrangeira durante a proclamação da República em 1889, passando por uma análise da dramática atuação do presidente chileno Balmaceda (1840-1891) e por três conferências que Nabuco proferiu, já no final da vida, em universidades americanas. De todo modo, o grande destaque da segunda parte de “Joaquim Nabuco – Essencial” são os trechos escolhidos da sua grande obra “Um estadista do Império”, que conta a carreira política de seu pai, José Tomás Nabuco de Araújo Filho, deputado e senador por Pernambuco. Com grande penetração psicológica, Nabuco destrincha a vida e a postura de um grande número de políticos do tempo do Império, além de apresentar análises agudas de temas como a monarquia e a Guerra do Paraguai.

Mas a parte mais impressionante de “Joaquim Nabuco – Essencial” é mesmo a primeira, “Textos abolicionistas”. Escritos durante a longa campanha pela libertação dos escravos, é praticamente impossível ler estes textos sem relacioná-los com a evolução posterior do país, até os dias de hoje. Para Nabuco, a escravidão não só é moralmente indefensável: a economia do Brasil como um todo perde com ela. O comércio, por exemplo, não tem como florescer sem a abolição, já que os grandes proprietários de terra são praticamente os únicos que têm possibilidade de comprar bens de consumo: mas o fazem muito pouco, já que as próprias fazendas produzem grande parte do que necessitam, num sistema semelhante ao do feudalismo. Do mesmo modo, a escravidão impede o surgimento de uma classe média economicamente importante, já que os grandes proprietários não precisam pagar salários e não lhes compensa economicamente dividir a terra com pequenos proprietários. Outro alvo das críticas de Nabuco é a verdadeira mania que os brasileiros de alguma instrução daquela época tinham de tentar um emprego público (para receber sem trabalhar, muitas vezes).

Escritos com uma extrema objetividade e uma verve impressionante, os textos de “Joaquim Nabuco – Essencial” mostram a mentalidade de um político de talento incomum, com ideias que em grande parte não envelheceram. Sob qualquer aspecto que se analise, uma uma obra-prima.

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