O título deste texto é exagerado e – em última análise – pouco verdadeiro. Parece que alguma coisa está errada quando alguém relaciona as “três maiores bandas de metal” e não inclui nem Metallica, nem Iron Maiden: afinal, em termos de popularidade, poucas bandas no estilo chegam perto delas. A explicação, óbvia, é que as “três maiores bandas de metal” o são na minha perspectiva das coisas: é que eu achei que um título como “minhas três bandas preferidas de metal” não representaria a grandeza de Neurosis, Electric Wizard e Burzum. Enfim. O engraçado é que – por mais que eu goste de listas – sempre acho complicado resumir minhas preferências sobre qualquer coisa em uma relação de cinco ou dez melhores (ainda não me conformo, por exemplo, em não ter colocado nada do Blink 182 na minha lista de dez clipes preferidos, aqui e aqui). No presente caso, entretanto, em nenhum momento tive a menor dúvida da minha escolha.
Se nos dois primeiros discos – “Pain of mind” (1987) e “The word as law” (1990), ambos no estilo punk/hardcore – os californianos do Neurosis ainda não tinham criado ainda nada de muito especial, em “Souls at zero” (1992) a “revolução” começou: longas faixas com variações de ritmos criadas com maestria – indo do folk mais tranquilo à violência mais brutal – e uma interpretação de tal maneira intensa que dá até para entender quando eles chamam a sua devoção à banda de “religião”. Nos álbuns seguintes – “Enemy of the sun” (1993), “Through silver in blood” (1996), “Times of grace” (1999), “A sun that never sets” (2001) e “The eye of every storm” (2004), “Given to the rising” (2007) e “Honour found in decay” (2012) – a banda manteve a qualidade extraordinária de suas composições (um pouco menos nestes dois últimos, é verdade). A comunidade do finado Orkut sobre o Neurosis chamava a banda, exageradamente, de “a maior e mais complexa manifestação artística sob a face da terra”. Ao ouvir faixas como “From the hill” (de “A sun that never sets”) ou “No river to take me home” (de “The eye of every storm”) fica difícil discordar do exagero dos fãs.
Imagine um Black Sabbath mais lento, mais grave e muito mais pesado: esta é a explicação que dou para quem quer saber como soa o Electric Wizard, de Dorset, Inglaterra. Da própria explicação surge o nome do estilo da banda segundo a Encyclopaedia Metallum, “doom/stoner metal”: do Black Sabbath vem o lado “stoner” (partindo do pressuposto que todo grupo de stoner faz riffs na linha da banda de Tony Iommi); da lentidão vem o lado “doom” (estilo de metal lento e depressivo). O Electric Wizard tem uma obra-prima absoluta, “Dopethrone” (2000) – um dos meus discos preferidos em qualquer estilo -, com faixas como “Funeralopolis” e “I, the witchfinder” – que, se não são as melhores de metal já criadas, chegam perto disso. Embora de nível um pouco inferior, os demais discos da banda são excelentes – com destaque para “Witchcult today” (2007) e “Time to die” (2014). De certa maneira, o Electric Wizard é o herdeiro de uma série de grupos excelentes de metal, stoner ou doom – como Black Sabbath, Kyuss, Candlemass, Anathema e My Dying Bride – e criou um som que superou o de todos eles.
Se o Electric Wizard é o último de uma linhagem, o Burzum é o primeiro da sua. Criador de um estilo de black metal em que melodias quase delicadas são soterradas por paredes de microfonia e vocais assustadores, a banda norueguesa de um único integrante – Varg Vikernes – é influência decisiva para uma série de bandas de grande qualidade, como Xasthur, Velvet Cacoon, Leviathan, Drudkh, Wigrid, Silencer e Paysage d’hiver. Só que – cada vez mais me convenço disso – neste caso nenhuma das influenciadas supera a original. Afinal de contas, álbuns como “Filosofem” (1996) ou “Hvis Lyset Tar Oss” (1994) são tão extraordinários que provavelmente vencerão a barreira do tempo e terão sua importância artística reconhecida pela posteridade. Por mais que Varg Vikernes seja um sujeito desprezível (como o escritor Louis-Ferdinand Céline e o poeta Ezra Pound também eram, aliás).
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