O universo do filme noir é tipicamente urbano e contemporâneo: de maneira geral, protagonistas de caráter duvidoso, bandidos, mulheres fatais, policiais, etc., são personagens vivendo em grandes cidades – seja em becos escuros, lanchonetes, palacetes ou residências modestas – nos anos 40 e 50 do século XX (época em que os filmes foram realizados). Porém, alguns filmes no estilo fogem deste padrão. O presente texto trata de quatro filmes cujas histórias transcorrem em locais diferentes – dois em presídios, um na fronteira entre os Estados Unidos e México e outro numa pequena cidade – e outro no século XIX. São uma mostra de uma rara flexibilidade neste estilo cinematográfico fascinante – e um tanto engessado. Todos os filmes citados aqui constam da fascinante coleção de DVDs “Filme Noir”, da Versátil .
“À margem da vida” (“Caged”, 1950, 96 min), de John Cromwell, se passa num presídio feminino, em que uma jovem viúva de 19 anos é presa por cumplicidade num pequeno assalto e, lá, vai ficando cada vez mais amargurada com a falta de perspectivas de melhorar de vida quando estiver livre. O filme é extremamente bem conduzido, concorreu a quatro Oscar e Eleanor Parker – atriz que faz jovem viúva – acabou vencendo o prêmio de melhor atriz.
“Rebelião no presídio” (“Riot in cell block 11”, 1954, 80 min), de Don Siegel, se passa num presídio masculino onde ocorre uma rebelião. O filme é de denúncia contra as péssimas condições dos presos – alguém já ouviu falar nisso? -, mas perdeu muito de sua força.
“Mercado humano” (“Border incident”, 1949, 96 min), de Anthony Mann, conta a história de policiais mexicanos e americanos que vão à fronteira entre os Estados Unidos e México tentar desbaratar uma quadrilha que explora o tráfico de mexicanos. Grande filme, com uma fotografia espetacular de John Alton.
Em “Ao cair da noite” (“Moonrise”, 1948, 90 min), de Frank Borzage, um rapaz de uma cidade do interior que sempre sofreu bullying por ter um pai enforcado por assassinato acaba matando sem intenção, numa briga, o maior dos valentões da cidadezinha. O restante do filme mostra os problemas do assassino com sua consciência – e por isso a Versátil, na contracapa, acaba chamando o filme de “noir psicológico”. O filme definitivamente não consegue criar o clima que queria – será pelo fato de o diretor Frank Borzage não gostar do gênero noir, como mostrado nos extras do volume 11 da coleção da Versátil? Apostaria nisso.
Finalmente, “Conspiração” (“The tall target”, 1951, 77 min), de Anthony Mann, mostra um detetive que embarca num trem para tentar salvar o presidente Abraham Lincoln, que será vítima de um atentado. O melhor dos filmes citados aqui.
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