Lamentações de Jeremias
Religião

Lamentações de Jeremias

14 de dezembro de 2015 0

O livro “Lamentações de Jeremias” foi escrito provavelmente depois da destruição do Primeiro Templo de Jerusalém por Nabucodonosor, rei dos babilônios, por volta de 589 a.C. O livro é lido nas sinagogas no dia 9 do mês Av do calendário judaico. O que me impressiona no livro é a extraordinária força de suas imagens.

O autor (não há certeza que tenha sido o Profeta Jeremias) diz que seus olhos estão “cansados de chorar” (2:11). Sua alma está “atormentada”, seu coração se derrama porque o seu povo está “destruído”, porque “crianças e bebês desmaiam pelas ruas da cidade”: é aterrorizante como esta imagem de pessoas desabando de fome nas ruas lembra descrições da vida dos ucranianos durante o Holodomor (a fome imposta por Stálin contra seus adversários), ou da vida dos judeus no Gueto de Varsóvia.

Segundo o autor das “Lamentações de Jeremias”, é melhor morrer na guerra do que por falta de comida: “os que foram mortos pela espada estão melhor do que os que morrem de fome, os quais, torturados pela fome, definham pela falta de produção das lavouras” (4:9). Mais terrível é a imagem de mães cozinhando os filhos: “Com as próprias mãos, mulheres bondosas cozinharam os próprios filhos, que se tornaram a sua comida quando o meu povo foi destruído” (4:10).

A ira do Senhor contra seu povo é descrita por palavras duras até para o padrão do Deus do Antigo Testamento: “sem piedade o Senhor devorou todas as habitações de Jacó” (2:2). Ele chega a ser descrito como um inimigo: “como um inimigo, preparou o seu arco; como um adversário, a sua mão direita está pronta. Ele massacrou tudo o que era agradável contemplar; derramou sua ira como fogo sobre a tenda da cidade de Sião” (2:3,4).

Isto tudo não foi de graça, já que Israel pecou: “Jerusalém cometeu graves pecados; por isso tornou-se impura. Todos os que a honravam agora a desprezam, porque viram a sua nudez; ela mesma geme e se desvia deles” (1:8). Na hora do desespero, pergunta-se o que os outros acham de sua situação: “vocês não se comovem, todos vocês que passam por aqui? Olhem ao redor e vejam se há sofrimento maior do que o que me foi imposto e que o Senhor trouxe sobre mim no dia em que se acendeu a sua ira” (1:12). O autor é testemunha da desgraça do povo: “eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara da sua ira. Ele me impeliu e me fez andar na escuridão, e não na luz; sim, ele voltou sua mão contra mim vez após vez, o tempo todo” (3:1-3). Como Jó, ele está alquebrado: [o Senhor] “fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus ossos. Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar” (3:4,5).

Israel perdeu toda a sua antiga imponência: “como está deserta a cidade, antes tão cheia de gente! Como se parece com uma viúva, a que antes era grandiosa entre as nações! A que era a princesa das províncias agora tornou-se uma escrava” (1:1). O livro termina com uma prece: “restaura-nos para ti, Senhor, para que voltemos; renova os nossos dias como os de antigamente, a não ser que já nos tenhas rejeitado completamente e a tua ira contra nós não tenha limite!” (5:21,22).

Com um estilo impressionante e por vezes quase cinematográfico, o livro “Lamentações de Jeremias” consegue transportar o leitor para a época da destruição do Primeiro Templo. Se não foi o autor, Jeremias teria certamente assinado com orgulho versículos como estes:

“Até os chacais oferecem o peito para amamentar os seus filhotes, mas o meu povo não tem mais coração; é como as avestruzes do deserto. De tanta sede, a língua dos bebês gruda no céu da boca; as crianças imploram pelo pão, mas ninguém as atende.” (4:3,4)

(textos bíblicos obtidos aqui)

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