Entre as mulheres tu avanças,
Teu sorriso frequentemente se angustia:
Eles vieram, os dias de medo.
Branca sobre a sebe a papoula morre.
Como teu corpo com um inchar tão bonito
A vinha de ouro amadurece sobre a colina.
Cintila ao longe o espelho da lagoa
E bate a foice nos campos.
Nas sarças correm os orvalhos
Vermelhas as folhas escoam até a terra.
Para saudar sua mulher querida
Um Mouro, moreno e rude se aproxima.
(Maternidade bendita, de Georg Trakl – traduzido da versão francesa de Jacques Legrand)
Janelas, canteiros vivos,
O canto do órgão entra.
Sombras dançam no muro,
De maneira estranha, a ronda louca.
As moitas queimando voam com clareza,
Um enxame de moscas vibra.
No campo as foices ceifam
E uma água antiga canta.
Quem com seu sopro me acaricia?
Sinais loucos de andorinhas.
No infinito baixinho escoa
A grande floresta dourada.
Chamas brilham nos canteiros.
A ronda louca se exalta
Sobre a parede amarela.
Alguém olha na porta.
Incenso e pera cheiram bem,
Vidro e arca se obscurecem.
Queimando lentamente, a face
Se inclina em direção às estrelas brancas.
(Em um quarto abandonado, de Georg Trakl – traduzido da versão francesa de Jacques Legrand)
Na janela em flores voltam a sombra do campanário
E ouro. A fronte em chamas se apaga em quietude e silêncio.
Uma fonte escolhe no escuro dos castanheiros –
Você sente então: como é bom! em doloroso cansaço.
O mercado se esvazia dos frutos do verão, das guirlandas.
O escuro esplendor das fachadas nos acalma.
Em um jardim ressoam os acordes de um jogo tenro,
Onde amigos, depois da refeição, se encontram.
A alma escuta com prazer os cantos do mágico branco.
Ao redor sibila o trigo que os ceifeiros cortaram no meio-dia.
Paciente, a rude vida se cala nos barracos;
O lampião do estábulo ilumina o doce sono sono das vacas.
Bêbadas de brisa, se abaixam logo as pálpebras
Que se abrem baixinho diante dos signos estelares desconhecidos.
De velhos carvalhos Endymion surge do escuro
E se inclina sobre águas enlutadas.
(Musa da noite, de Georg Trakl – traduzido da versão francesa de Jacques Legrand)
Comentários Recentes