Charles Lindberg era antissemita e um herói da aviação (foi o primeiro ser humano a atravessar num voo solitário o Oceano Atlântico, em 1927). Ele foi um dos líderes da campanha americana para que os Estados Unidos não participassem da Segunda Guerra Mundial.
O que aconteceria se este sujeito fosse alçado à condição de presidente na eleição de 1940 (que, na realidade, foi vencida por Franklin Delano Roosevelt)? É o que especula o grande Philip Roth em Complô contra a América (Companhia das Letras). A “presidência Lindberg”, como era de se esperar, é bastante mais dura para com os judeus do que foi a de Roosevelt – e os acontecimentos daqueles anos loucos anos é o tema do livro, contado em primeira pessoa por um personagem (que também se chama Philip Roth) que na época tinha cerca de oito anos.
Confesso que, no início, a “história paralela” criada por Roth me pareceu por demais inverossímil. Mas, à medida que a leitura do livro foi transcorrendo, vai-se percebendo por que o autor é considerado o maior escritor vivo – mesmo sem receber o Nobel. A história da “presidência Lindberg” – que, nas mãos de um autor menos talentoso, poderia ter se transformado em um simples tipo de luta do bem contra o mal – em Complô contra a América se apresenta de maneira complexa, multifacetada, verossímil.
O que Roth parece querer dizer é que, por mais que o antissemitismo daqueles anos tenha sido forte mesmo nos Estados Unidos (o que é demonstrado pelo sucesso real das ideias, na época, de Lindberg e de outro antissemita famoso, Henry Ford), a democracia americana é muito mais forte do que isso. Ou seja: Complô contra a América é uma obra de ficção, claro – mas da melhor qualidade.
(texto publicado no blog do Mondo Bacana em 26 de agosto de 2010)
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