A Paixão de Cristo, de Mel Gibson
Cinema

A Paixão de Cristo, de Mel Gibson

21 de maio de 2015 0

Dirigido por Mel Gibson, falado em latim e aramaico e com o ator Jim Caviezel no papel principal, A Paixão de Cristo conta a história das doze últimas horas do fundador do Cristianismo. O filme começa quando Jesus, angustiado e tentado pelo demônio (uma figura andrógina que o acompanha durante praticamente toda a projeção), pede a seus discípulos, no Getsêmani, que velem por ele – o que eles não conseguem fazer, pois pegam no sono. Logo chegam os guardas judeus que vão prendê-lo, e começa o martírio: os guardas amarram-no e dão diversos socos e golpes de correntes. Quando Cristo chega diante do sacerdote Caifás, uma de suas vistas já está estourada e ele enxerga apenas com a outra – que fica aberta, arregalada, até o final do filme, como bem notou Luiz Carlos Merten no Estadão. Os sacerdotes fazem um julgamento sumário: bastou Jesus reconhecer que era o Filho de Deus para que fosse proclamada a blasfêmia. Ele recomeça a apanhar.

Os sacerdotes judeus queriam a cruz, mas suas leis não previam pena de morte. Eles foram, então, pedi-la a Pilatos, o dirigente romano na Judéia, que se recusa e pede aos judeus que levem Jesus ao rei deles, Herodes. Este, que está tão alucinado, envolto por seus asseclas, que não quer nem saber do assunto. Os sacerdotes trazem o Filho de Deus de volta a Pilatos, que continua não vendo nenhum crime nele. O romano pede um acordo aos sacerdotes e ao povo reunido na praça: os judeus deveriam escolher um preso para ser libertado, Cristo ou um ladrão vulgar – Barrabás, que é o escolhido. Pilatos não se conforma, diz que não vai mandar matar Jesus, vai apenas dar-lhe um castigo.

As surras dadas pelos judeus em Jesus até aqui não são nada perto do que os romanos fazem a partir de então. Cristo é açoitado um número interminável de vezes com varas flexíveis e de ferro, e também com chicotes com metais de diversas formas nas pontas. Ele apanha e sangra por todas as partes do corpo – além dos ferimentos usuais dos golpes, as partes metálicas dos instrumentos de tortura tiram pedaços enormes de Sua pele. Cristo volta à presença de Pilatos, dos sacerdotes e do povo reunido na praça. O dirigente romano, diante de um Jesus totalmente arrebentado, pergunta aos judeus se não está suficiente. Não está. Eles querem a cruz. Pilatos lava as mãos, dizendo que não tem nada a ver com aquele crime.

Os romanos trazem a cruz a Cristo, que a carrega com grande dificuldade, enquanto é chicoteado o tempo todo pelos romanos. Sua caminhada no Gólgota é indescritivelmente sofrida, assim como a Sua posterior subida à cruz. Mel Gibson não poupa um detalhe: são mostrados – de maneira chocante – socos, quedas, chicotadas, além do martelar de enormes pregos nas mãos e nos pés. Quando Ele finalmente expira, o céu escurece e a terra treme – quando então o Templo, conforme profetizado, é destruído (para o enorme arrependimento do sumo sacerdote judeu).

A Paixão de Cristo é um filme duro de assistir, de tão violento. É angustiante e traz sofrimento para o público. Boa parte das pessoas chora – nas cenas mais pesadas são ouvidos soluços e mais soluços nas salas de projeção.

Para que este sofrimento todo? Muitos dos críticos acharam que esta exploração da violência é pornográfica, coisa de uma mente sádica e cruel – e mesmo mercantilista. Outra queixa recorrente é de que o filme não se concentra na mensagem de Cristo, apenas no seu sofrimento – realmente, apenas em durante alguns flashbacks durante Seu horrendo sofrimento, Sua mensagem aparece na tela.

Penso que estes são questionamentos deslocados, que não atingem a real intenção de A Paixão de Cristo. O filme de Mel Gibson é, na verdade, o de um cristão para cristãos. O fato de Jesus ter padecido na cruz para pagar os pecados da Humanidade é, praticamente, o que existe de mais fundamental na doutrina Cristã – afinal de contas, para o crente, quanto maior o Seu sofrimento, maior o Seu amor por nós.

(texto publicado no Mondo Bacana em 23 de abril de 2008)

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