Cidades (I) – tradução de Rimbaud
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Cidades (I) – tradução de Rimbaud

20 de maio de 2015 0

A acrópole oficial extrapola as concepções mais colossais da barbárie moderna. Impossível exprimir o dia embaçado produzido por este céu inalteravelmente cinza, o brilho imperial das construções, e a neve eterna do chão. Foram reproduzidas num gosto de enormidade singular todas as maravilhas clássicas da arquitetura. Assisto a exposições de pintura em instalações vinte vezes maiores que Hampton Court. Que pintura! Um Nabucodonosor norueguês mandou construir as escadas dos ministérios; os subalternos que eu pude ver já são mais orgulhosos do que brâmanes e tremi diante do aspecto de colosso dos guardiões e oficiais de construções. Os motoristas foram afastados devido ao agrupamento dos edifícios em praças, pátios e terraços fechados. Os parques representam a natureza primitiva trabalhada por uma arte magnífica. O quarteirão alto tem partes inexplicáveis: um braço de mar, sem navios, rola seu lençol de granizo azul entre cais carregados de candelabros gigantes. Uma ponte curta leva a um porta falsa imediatamente abaixo da cúpula da Sainte-Chapelle. Esta cúpula é uma armadura artística de aço de cerca de 15 mil pés de diâmetro.

Sobre alguns pontos das passarelas de cobre, das plataformas, das escadas que contornam as praças de mercado e os pilares, eu pensei que poderia ter uma ideia da profundidade da cidade! É o prodígio do qual eu não poderia ter me dado conta: quais são os níveis dos outros quarteirões acima ou abaixo da acrópole? Para o estrangeiro do nosso tempo o reconhecimento é impossível. O quarteirão comercial é um anfiteatro de um único estilo, com galerias de arcadas. Não se veem lojas. Mas a neve da calçada é esmagada; alguns nababos tão raros quanto pessoas passeando em uma manhã de domingo em Londres se dirigem a uma carruagem de diamantes. Alguns divãs de veludo vermelho: são servidas bebidas polares cujo preço varia de oitocentas a oito mil rúpias. À ideia de procurar teatros neste circo, eu me respondo que as lojas devem conter dramas bem sombrios. Eu acho que há uma polícia, mas a lei deve ser de tal maneira esquisita que eu renuncio a ter uma ideia dos aventureiros daqui.

O subúrbio, tão elegante quanto uma bela rua em Paris, é favorecido por um ar luminoso. O elemento democrático conta com algumas centenas de almas. Lá, ainda, as casas não são consecutivas; o subúrbio se perde bizarramente no campo, o “Condado” que preenche o ocidente eterno das florestas e das plantações prodigiosas onde os fidalgos selvagens caçam suas crônicas sob a luz que se criou.

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