Comentários esparsos sobre As Bacantes, de Eurípedes
Literatura

Comentários esparsos sobre As Bacantes, de Eurípedes

10 de março de 2015 0

Se chegássemos na Grécia Antiga e nos fosse possível entender exatamente o que os gregos diziam, o que ouviríamos? Que tipo de expressão estranha aos nossos ouvidos uma tradução literal do grego nos permitiria?

Para exemplificar essas questões, um exemplo: quem fala inglês sabe que yellow submarine é traduzido literalmente por amarelo submarino, e não por submarino amarelo, que é o português correto. Do mesmo modo, quando lemos traduções do grego antigo para o português moderno, temos uma idéia do que os autores queriam dizer, mas não do modo com que eles realmente falavam.

Eu comecei a me perguntar este tipo de coisa depois de ter folheado numa livraria a tradução de Haroldo de Campos da Ilíada, de Homero, e depois de ter lido a tradução abaixo, feita por Trajano Vieira, dos 63 primeiros versos da peça As Bacantes, de Eurípedes, publicada na Folha de São Paulo no dia 6 de abril de 2003 (a transcrição do artigo completo de Trajano Vieira está aqui  e a coluna da esquerda, abaixo, mostra o texto em grego transcrito para o alfabeto latino, conforme obtido aqui):

 

hêkô Dios pais tênde Thêbaiôn chthona        Deus, filho de Zeus, chego à Tebas ctônia,
Dionusos, hon tiktei poth’ hê Kadmou korê        Dioniso. Deu-me à luz Semele cádmia.
Semelê locheutheis’ astrapêphorôi puri:        O raio Zeus porta-fogo fez-me o parto.
morphên d’ ameipsas ek theou brotêsian        Deus em mortal transfigurado, achego-me
pareimi Dirkês namat’ Ismênou th’ hudôr.        ao rio Ismeno, ao minadouro dírceo.
horô de mêtros mnêma tês keraunias        Avisto o memorial de minha mãe
tod’ engus oikôn kai domôn ereipia        relampejada junto ao paço. Escombros
tuphomena Diou puros eti zôsan phloga,        de sua morada esfumam com o fogo,
athanaton Hêras mêter’ eis emên hubrin.        ainda flâmeo, de Zeus, ultraje eterno
ainô de Kadmon, abaton hos pedon tode        de Hera contra Semele. Louvo Cadmo:
tithêsi, thugatros sêkon: ampelou de nin        sagrou à filha o espaço não-pisado,
perix egô ‘kalupsa botruôdei chloêi.        que circum-ocultei com verdes vinhas
lipôn de Ludôn tous poluchrusous guas        em cachos. Deixo Lídia e Frígia pluri-
Phrugôn te, Persôn th’ hêlioblêtous plakas     -áureas; plainos da Pérsia calcinados;
Baktria te teichê tên te duschimon chthona     Báctria emurada; a Média, terra gélida;
Mêdôn epelthôn Arabian t’ eudaimona     Arábia venturosa; pleniaberta
Asian te pasan, hê par’ halmuran hala        ao mar salino, a Ásia, onde, em tantas urbes
keitai migasin Hellêsi barbarois th’ homou        de torres multilindas, grego e bárbaro
plêreis echousa kallipurgôtous poleis,        compunham gigantesco aglomerado.
es tênde prôton êlthon Hellênôn polin,        Na Grécia, por aqui me introduzi.
takei choreusas kai katastêsas emas        Fundei meu rito em coros dançarinos:
teletas, hin’ eiên emphanês daimôn brotois.        um deus-demônio, ao homem manifesto.
prôtas de Thêbas têsde gês Hellênidos        À terra dos tebanos vim primeiro.
anôloluxa, nebrid’ exapsas chroos        A pele nébrida ajustei aos corpos
thurson te dous es cheira, kissinon belos:        sobreululando, o tirso e o dardo de hera
epei m’ adelphai mêtros, has hêkista chrên,        dei-lhes. Me denegriu quem não devia,
Dionuson ouk ephaskon ekphunai Dios,        as minhas tias maternas: “Não é deus
Semelên de numpheutheisan ek thnêtou tinos        Dioniso! Não é filho de Zeus! Grávida
es Zên’ anapherein tên hamartian lechous,        de outro qualquer, Semele o inculpou pela
Kadmou sophismath’, hôn nin houneka ktanein        própria falta”. Sofismam, como Cadmo:
Zên’ exekauchônth’, hoti gamous epseusato.        a mãe falsária, Zeus, então, matara-me!
toigar nin autas ek domôn ôistrês’ egô        Eis a razão de eu, para o monte, atraí-las,
maniais, oros d’ oikousi parakopoi phrenôn:        maníacas de furor, fêmeas frenéticas.
skeuên t’ echein ênankas’ orgiôn emôn,        Fêmeas tebanas portam, todas elas
kai pan to thêlu sperma Kadmeiôn, hosai        forçadas, paramentos para a orgia,
gunaikes êsan, exemêna dômatôn:        tresloucadas, dos lares, todas, extra-
homou de Kadmou paisin anamemeigmenai        ditadas, turba entremesclada às Cádmias,
chlôrais hup’ elatais anorophois hêntai petrais.        sob o cloroso abeto, sobre as pedras.
dei gar polin tênd’ ekmathein, kei mê thelei,        Malgrado seu, aprenda a cidadela
ateleston ousan tôn emôn bakcheumatôn,        não ter sido iniciada em meus baqueus.
Semelês te mêtros apologêsasthai m’ huper        Da mãe Semele faço a apologia:
phanenta thnêtois daimon’ hon tiktei Dii.        mostro-me um deus-demônio, o sêmen nela
Kadmos men oun geras te kai turannida        de Zeus. Cadmo a Penteu, filho de uma outra
Penthei didôsi thugatros ekpephukoti,        filha, outorga o apanágio de tirano-
hos theomachei ta kat’ eme kai spondôn apo         -rei. Contra mim, Penteu move uma teo-
ôthei m’, en euchais t’ oudamou mneian echei.        maquia: libações me nega e preces.
hôn hounek’ autôi theos gegôs endeixomai        Por isso eu lhe indigito minha origem
pasin te Thêbaioisin. es d’ allên chthona,        divina, e a Tebas toda. Implanto aqui
tanthende themenos eu, metastêsô poda,        o rito, e os pés, alhures, logo movo
deiknus emauton: ên de Thêbaiôn polis        em minha epifania. Mas se em furor
orgêi sun hoplois ex orous bakchas agein        de hoplita a pólis planejar tirá-las
zêtêi, xunapsô mainasi stratêlatôn.        do pico, eu lutarei, chefiando as loucas.
hôn hounek’ eidos thnêton allaxas echô        Por isso, num mortal me transfiguro,
morphên t’ emên metebalon eis andros phusin.        a forma antiga em natureza humana.
all’, ô lipousai Tmôlon eruma Ludias,        Atrás de nós ficou a serra tmólia,
thiasos emos, gunaikes, has ek barbarôn        baluarte lídio, ó fêmeas do meu tiaso,
ekomisa paredrous kai xunemporous emoi,        companheiras de périplo e repouso!
airesthe tapichôri’ en polei Phrugôn        Alçando frígios tímpanos, ó bárbaras,
tumpana, Rheas te mêtros ema th’ heurêmata,   invento de Mãe-Réia, meu próprio invento,
basileia t’ amphi dômat’ elthousai tade        circundai a morada basiléia,
ktupeite Pentheôs, hôs horai Kadmou polis.        ressoai que o presencie a pólis de Cadmo!
egô de bakchais, es Kithairônos ptuchas        Assim, voltando ao Ptyks, reentrância do
elthôn hin’ eisi, summetaschêsô chorôn.        Citero, me reintegro ao coro báquico.

A tradução acima é de leitura bastante difícil – por exemplo, na utilização de palavras como “cádmio” e “sobreululando”. Entretanto, ela deve ser bastante literal, já que o original grego, à esquerda, tem praticamente a mesma métrica. Já a versão do mesmo trecho, originalmente de 63 versos, ficou com 97 versos – apresentados abaixo – na tradução de Mário da Gama Kury (1):

 

Estou aqui, chegando à terra dos tebanos,
eu, o próprio Diôniso, filho de Zeus
que há muitos anos a filha do antigo Cadmo,
Semele, trouxe ao mundo graças ao fulgor
de um divino relâmpago vindo das nuvens.
Tomei a forma humana para freqüentar
as nascentes de Dirce e as águas do Ismeno.
Já posso ver junto ao palácio a sepultura
da minha mãe – pobre Semele! – fulminada
por um raio e as ruínas de sua morada
ainda fumegantes do fogo de Zeus,
testemunho perene da vingança de Hera
e um violento insulto à minha amada mãe.
É meu dever também agradecer a Cadmo
por haver feito deste solo, inviolável,
aos passos dos mortais, o altar de sua filha,
que vim cercar de videiras cheias de uvas.
Cruzei a Lídia e sua terra aurífera
e as planícies da Frígia e viajei
para os ensolarados planaltos da Pérsia,
e a Bactriana com suas muitas cidades
bem defendidaspor mulharas altaneiras,
e a Média, gelada durante o inverno,
e até o extremo da Arábia Feliz,
e toda a Ásia, enfim, cujo limite
são as ondas salgadas, com suas cidades
cercadas por belas muralhas, onde os gregos
se misturaram com diversas raças bárbaras.
A primeira cidade grega que visito
é esta aqui. Em muitas regiões distantes
organizei meus coros, implantei meus ritos,
para manifestar-me aos homens como um deus.
A minha preferida entre as cidades gregas
é Tebas, onde já se ouviram meus clamores.
As mulheres tebanas, mais fiéis a mim,
já se dispõem a vestir peles de corças,
e pus em suas mãos o tirso, este dardo
ornado com ramos de hera sempre verdes.
De fato, as irmãs de minha querida mãe,
que em primeiro lugar deveriam apoupar-me
de tal insulto, declararam que eu, Diôniso,
não sou filho do do grande Zeus e que Semele,
ludibriada por um amante mortal
e mal aconselhada pelo próprio Cadmo,
havia atribuído seu pecado ao deus.
Em altos brados elas proclamavam que,
se Zeus a fulminou, foi para castigá-la
por ter tido a idéia de vangloriar-se
de amores com um deus. Por isso compeli
todas as mulheres de Tebas a deixarem
seus lares sob o o aguilhão de meu delírio.
E agora, vítimas da da mente transtornada,
elas passaram a morar nos altos montes,
usando apenas a roupagem orgiástica.
Longe de suas casas e como dementes,
elas misturam-se com as filhas de Cadmo
em cima dos rochedos e sob os pinheiros
perenemente verdes. Mesmo constangida,
esta cidade terá de reconhecer
a grande falta que lhe fazem minhas danças
e meus mistérios, para que eu possa vingar
a honra de Semele, a minha amada mãe,
aparecendo aqui a todos os mortais
como o deus que ela um dia concebeu e teve,
depois de unir-se a Zeus. E Cadmo transmitiu
suas reais prerrogativas a Penteu,
filho de sua filha, que faz contra mim
guerra constante à minha condição divina.
Ele sempre me exclui de suas libações
e nunca diz meu santo nome em suas preces
mas poderei provar-lhe e provar aos tebanos
que fui realmente gerado por um deus.
Depois de acertar tudo como quero aqui,
dirigirei meus passos a outros lugares
e me darei a conhecer em toda parte.
Mas se a cidade dos tebanos, tresloucada,
tentar trazer do cume dos montes mais altos
minhas Bacantes recorrendo à força bruta
e às armas, então marcharei com minhas tropas
de Mênades enfurecidas contra Tebas.
Com esta intenção apareci aqui
como se fosse um dos mortais e transformei
em corpo humano minha condição divina.
Vamos, vós, que preferistes deixar o Tmolo,
a muralha da Lídia, vós, componentes
de meu cortejo, minhas queridas mulheres
que me acompanham sempre desde as terras bárbaras,
vós todas que morais e caminhais comigo,
vós que agitais os tamborins feitos na Frígia
(uma invenção de Réa, a Grande Mãe, e minha).
Vinde e ficai junto ao palácio de Penteu,
tocando-os para atrair sobre vós mesmas
a curiosidade de Tebas Cadméia,
enquanto, sempre ao lado de nossas Bacantes,
conduzirei seus coros até o sopé
do altíssimo Citéron, onde ficaremos.

A tradução de Mário da Gama Khury nos permite compreender com muito mais facilidade o início da peça As Bacantes – um discurso do deus Dioniso explicando o porquê de sua chegada à cidade de Tebas. Como comparação, ainda, segue a versão em prosa de Eudoro de Souza (2):

1. Chegado sou a esta terra tebana, eu, Dioniso, filho de Zeus, dado à luz pela cria de Cadmo, Sêmele, partejada pelo fogo do relâmpago. Minha forma divina pela de um mortal trocada, eis-me aqui junto às fontes do Dirce, defronte às águas do Ismeno. Vejo o túmulo de minha mãe, fulminada pelo raio, beirando o palácio e as ruínas de sua casa, esfumaçando ainda pela chama sempre viva do fogo de Zeus: vingança de Hera, signo do ultraje que não tem fim. Louvores a Cadmo que o lugar erigiu em inviolável recinto: eu o velei sob racimadas frondes da vinha.

13. Tendo deixado os campos preciosos da Lídia e da Frígia, e percorrido os altiplanos da Pérsia, dardejados pelo sol, as muradas da Báctria e as paragens sinistras dos medos, a Arábia feliz, toda a Ásia que orla o mar salgado com os altos muros de suas cidades repleta de gregos misturados com bárbaros, venho a esta terra grega, mas só depois de fazer que todos aqueles povos dançassem e de haver fundado os mistérios meus, para que a divindade manifesta me torne entre os mortais.

23. Primeira cidade na Hélade, foi Tebas que soltei ululante! As mulheres revesti da pele do corço e em suas mãos depus o tirso, dardo de hera envolto. Já que as irmãs da minha mãe – as que menos o deviam ter feito – diziam que Dioniso não nascera de Zeus, e que Sêmele, seduzida por qualquer mortal, ao grande deus imputava a mácula em seu leito (astuciosa mentira de Cadmo!) e que, de haver propagado as falaciosas núpcias, a fulminara Zeus; por isso mesmo para fora de portas as toquei com o aguilhão da insânia. Agora, da mente alheadas, vagueiam pelos montes. Impus-lhes os paramentos das minhas orgias, e toda a feminina estirpe de Tebas, todas as mulheres que na cidade havia, desenfreadas andam por fora de suas casas; lá estão, com as filhas de Cadmo, no meio de fragas, sob os verdes pinhos. Ainda que não o queira, sabedora será esta cidade de a quanto importa ignorar os mistérios báquicos, e eu, tendo que defender minha mãe, hei de mostrar-me aos homens como a divindade nela gerada por Zeus.

43. Penteu, a quem Cadmo confiou o cetro régio, – que de sua filha nascera -, em mim combate o combate iníquo: de suas libações me aparta, de suas preces me olvida. Mas hei de mostrar-lhe que deus eu sou, a ele e a todo o povo de Tebas! Depois, bem cumprido o que aqui cumprir devia, a outros países dirigirei meus passos, por toda a parte expondo minha divindade. E se Tebas em fúria, de armas nas mãos, intenta das montanhas arrancar as Bacantes, na batalha lançarei as Mênades. Por isso, de mortal vesti o semblante e minha forma divina mudei em natureza humana.

55. Mas, vinde vós o tíaso meu, mulheres que deixastes o Tmolo, baluarte da Lídia, e desde as bárbaras nações a meu lado estais e por companheiras tenho. Vinde! Erguei os vossos tamborins oriundos da Frígia, por Réia Madre e por mim achados. Que em redor da morada de Penteu ressoem e toda a cidade de Cadmo vos olhe! Por mim, nas quebradas de Citeron me ajuntarei às Bacantes, a dirigir seus coros.

Logo que comecei a ter idéias para este texto sobre traduções gregas entrei em contato com meu amigo Fabio de Riggi, que não só se animou com o assunto como entrou em contato com estudiosos de grego. Estávamos pois esperando maior embasamento para o nosso texto quando mandei um e-mail para o Fabio mostrando, em primeira mão, meu texto sobre o Drácula de Bram Stoker. A resposta foi:

muito bom o texto… aliás, se seguir na mesma linha, você já tem tudo, a ocasião de pretexto, que foi nossa pesquisa, e suas impressões das bacantes, que devem ser muitas, hehehe.

 

Assim acabei me animando a reproduzir minhas impressões sobre As Bacantes, de Eurípedes – li recentemente as traduções completas da peça por Mário da Gama Khury e Eudoro de Souza (o Fabio vai conseguir mais outra, logo).

A peça é a história da vingança do deus grego Dioniso (ou Baco, ou Báquio, ou Brômio, ou Évio – todos estes nomes utilizados por Eurípedes para se referir a ele) contra Penteu, o prefeito de Tebas. Antes do início da peça, as bacantes (adoradoras de Baco) estavam numa floresta próxima fazendo danças e cultos rituais em homenagem ao deus, e são detidas por ordem de Penteu, que não acreditava na divindade de Dioniso. Por causa disso este chega à cidade (o seu discurso de entrada é o mostrado acima) para se vingar, disfarçado em simples mortal.

Baco então conversa com Penteu, que se ofende com a arrogância daquele e o manda prender, assim como fizera com as bacantes.  Durante a noite Dioniso se evade da prisão com suas seguidoras – e no outro dia volta a conversar com o prefeito de Tebas. É quando o deus, ainda disfarçado de mortal, começa a sua cruel vingança: ele ilude Penteu e o faz vestir-se de mulher para ir assistir os cultos das bacantes, entre as quais se incluía Agave, a mãe do prefeito. Na floresta Dioniso ilude suas seguidoras e dá uma enorme força a Agave, que mata o próprio filho com as mãos – Brômio a fizera acreditar que Penteu era um leão. A trágica morte do prefeito de Tebas, entretanto, ainda não era o suficiente para saciar o desejo de vingança do deus: este manda Agave e seu pai, Cadmo, se exilarem da cidade, apesar deles terem-no apoiado.

Apesar de contar com as maiores qualidades das grandes tragédias gregas – personagens extremamente bem delineados, rápida e intensa ação dramática -, há um aspecto de interesse verdadeiramente arqueológico quando se lê As Bacantes nos dias de hoje. Afinal de contas, o deus Dioniso – que tem poder sobre os mortais – é o deus do vinho e das orgias, e cuja moral é muito diferente da do Deus da tradição judaico-cristã. A atitude de vingança de Dioniso contra Penteu e sua família também é bastante diversa daquela que se poderia esperar do Deus cristão.

De certa forma, lemos As Bacantes como se lê um velho alfarrábio empoeirado: com grande interesse histórico, mas com uma profunda estranheza, com um certa sensação de estarmos num território totalmente desconhecido (3). Aliás, traduções literais do grego, como a de Trajano Vieira mostrada acima, aumentam ainda mais esta impressão de desorientação – mais ou menos como se fôssemos jogados na máquina do tempo e caíssemos diretamente na época de Eurípedes, com toda a enorme carga de estranheza que isto significaria.

E a conclusão do texto acabou sendo uma retomada do parágrafo inicial. O Fabio aprovou!

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(1) Ifigênia em Áulis; As fenícias; As bacantes / Eurípedes; tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993 (A tragédia grega)
(2) Medéia; As bacantes / Eurípedes; tradução de Miroel Silveira e Junia Silveira Gonçalves (Medéia) e Eudoro de Souza (As bacantes). – São Paulo: Abril Cultural, 1976 (Teatro vivo)
(3) o que não acontece, aliás, em  outras tragédias gregas de conteúdo mais universal, como Édipo Rei ou Antígona, de Sófocles

(texto escrito em meados de 2004)

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