“O Mestre e a Margarida”, de Mikhail Bulgákov e “Macunaíma”, de Mário de Andrade
Literatura

“O Mestre e a Margarida”, de Mikhail Bulgákov e “Macunaíma”, de Mário de Andrade

17 de junho de 2018 0

A escritora e crítica literária Noemi Jaffe é responsável por este texto estar apresentado como segue: em uma crítica publicada na Folha de São Paulo em 21 de janeiro de 2010, ela comenta sobre as incríveis coincidências entre “O Mestre e a Margarida”, do russo Mikhail Bulgákov e o nosso “Macunaíma”, de Mário de Andrade.

Explico: eu estava lendo “O Mestre e a Margarida” (Editora 34, 408 páginas) – que conta a história da visita do diabo, disfarçado de ilusionista, à Moscou sob o regime comunista de Stálin, fazendo (junto com seus assessores, entre eles um gato falante) tudo o que é tipo de confusão e matando gente aqui e ali – quando li a crítica de Noemi Jaffe comparando este livro com “Macunaíma”. Fiquei curioso, e finalmente resolvi ler o clássico de Mário de Andrade (Livraria Martins Editora, 136 páginas), que tenho desde o longínquo 1981 (conforme a foto que acompanha este texto), e que nunca tinha lido.

Realmente, a semelhança entre os dois livros é impressionante: “Macunaíma” – que conta a história do personagem título, um índio preguiçoso e “sem nenhum caráter” -, assim como “O Mestre e a Margarida”, tem acontecimentos inesperados acontecendo o tempo todo numa velocidade impressionante: os dois livros têm mortos que ressuscitam, fortunas em dinheiro vivo que aparecem e somem do nada, personagens que voam por distâncias enormes – de uma cidade a outra, de um estado a outro – em minutos. Os personagens principais – o diabo no romance russo, Macunaíma no brasileiro – não têm o menor respeito pelas outras pessoas, e só se divertem – quase sempre às custas dos outros.

Mikhail Bulgákov provavelmente quis fazer, em “O Mestre e a Margarida”, uma crítica ao totalitarismo stalinista – o diabo, matando gente a torto e a direito, seria o próprio Stálin. Já Mário de Andrade provavelmente tinha como principal objetivo fazer um apanhado do rico folclore brasileiro, já que boa parte do que é contado em “Macunaíma” é retirado de lendas locais. De todo modo, a semelhança entre os dois livros salta aos olhos e o mais estranho, conforme comenta Noemi Jaffe em sua crítica, é que

“Mário de Andrade escreveu “Macunaíma” ao longo de cinco dias, em 1927. O livro foi publicado em 1928. Mikhail Afanassievich Bulgákov escreveu ‘O Mestre e a Margarida’ ao longo de 11 anos, de 1929 a 1940, em Moscou. Não haveria, portanto, como um autor ter lido o outro, a não ser que o russo lesse português, algo improvável.”

Um belo mistério para a história da literatura.

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