Basalt
Música

Basalt

16 de maio de 2018 0

Não sei quantos anos durou a minha fase metaleira: aí pelo início dos anos 2000 eu descobri que o rock indie já não me trazia nada de interessante, e achei que mudar um pouco de perspectiva me faria bem. Eu diminuí sensivelmente a quantidade de metal ouvido quando comecei a ouvir Bones, o prolífico rapper, aí pelo ano de 2013, e hoje escuto mais rap do que qualquer outro estilo. Mas nunca parei de ouvir metal, e nunca passei a desgostar do estilo: digamos que eu tenha apenas “dado um tempo”.

Tudo isso para dizer que, apesar de eu não estar muito em dia com os lançamentos de metal, me considero, ainda, um razoável conhecedor do estilo. E, nesse sentido, fiquei extremamente impressionado o primeiro disco da banda paulistana Basalt, “O Coração Negro da Terra”, lançado no final de 2016 (e disponível no Spotify). As músicas são cantadas em português, e o som, impressionante, me lembrou a banda de black metal ucraniana Drudkh, pelo peso unido com a melancolia. Mas ainda tem mais, conforme conto abaixo na entrevista com Pedro Alves, um dos guitarristas da banda.

 


“Cantar em português é muito mais natural” – entrevista com Pedro Alves, guitarrista do Basalt 

A ideia da criação do Basalt surgiu em 2015, quando Pedro e o Luiz Mazetto – jornalista, autor do livro “Nós somos a tempestade”, sobre a cena de metal alternativo americana – resolveram juntar esforços para criação de uma banda. Pedro tinha uma banda de doom/stoner/psicodélico, o Magzilla, enquanto que o Luiz tocava na banda de grindcore Meant do Suffer, de Araras – e foi quando ele saiu da sua banda que o processo de criação do Basalt se acelerou.  

Luiz chamou o Marcelo Fonseca, que participou de bandas como Constrito e Cúmplice, para os vocais, e este chamou o Cuca, o primeiro baixista do Basalt (hoje substituído pelo Leonardo). O baterista, Victor Miranda, toca na banda de thrashcore Surra, e foi encontrado num post do Facebook.

Já no primeiro o ensaio deu para sacar que o Basalt iria funcionar: Pedro trouxe uma música meio pronta, que acabou se transformando em “Vanitas”, que faz paz parte de “O Coração Negro da Terra”, enquanto que o Luiz veio com um riff que acabou dando em outra faixa do disco, “Terra Morta”.

Em seis meses de ensaio o Basalt já tinha todas as músicas prontas: a banda queria lançar os discos de uma vez, antes que outras ideias começassem a aparecer na sonoridade da banda; mas, infelizmente, a demora até o lançamento do CD foi de quase dois anos: problemas com a arte, com a prensagem… até a falência da fábrica que iria prensar o disco apareceu para atrapalhar o processo, tornando a espera angustiante.

Aqui um comentário adicional: para o Pedro, no “metal ainda é relevante ter um disco lançado, o que não ocorre com rap, eletrônica ou funk, estilos que encontraram outros formatos de lançamento de música”. Para o guitarrista do Basalt, “o rock tem apego muito grande com costumes antigos”.

O Basalt ainda lançou um Split, “Atlântico”, com a banda portuguesa Redemptus: o engraçado da coisa é que foi muito mais fácil lançar um disco com portugueses, do outro lado do oceano, do que aqui no Brasil.

Atualmente o Basalt está criando as músicas para um novo disco. Segundo Pedro, “o som já está diferente, com novas dinâmicas, mais d-beat, hardcore, meio Converge”. Mas estão conseguindo manter a identidade. A banda partiu de uma música longa, de doze minutos, já dividida em duas, e já está juntando novos sons. Os planos é juntar dez músicas até julho e depois partir para gravação.

Como a banda mistura muitas influências – Luiz curte bandas de post metal como Neurosis e Isis; Pedro e Victor são da ala do black metal; o Marcelo, que vem do hardcore, gosta de uma grande gama de estilo de sons diferentes; e o Leo, finalmente, é um “baita headbanger” -, é importante que o som do Basalt não tenha “jeito de recorte”.

A banda está meio sem fazer shows porque está concentrada na elaboração das novas músicas. De todo modo, a ideia é fazer menos shows em São Paulo e mais em outras cidades.

Falei para o Pedro que, para mim, a influência principal de “O Coração Negro da Terra” é o black metal, mas ele me disse que a banda já foi definda por vários estilos, como sludge e post-metal – além do próprio black metal. Para o Pedro, ser definido como post-metal talvez englobe mais gêneros, mas ele mesmo não gosta tanto deste termo porque ele é amplo demais. Para o guitarrista do Basalt, a utilização de gêneros auxilia na comunicação – se você não conhece uma banda, facilita você saber se ela é de “black metal” ou “sludge”. Pode ser que, com o tempo, as pessoas achem o rótulo correto para o Basalt.

Finalmente, perguntado sobre como ele se sentia com a banda lançando músicas em português, Pedro disse que inicialmente esta foi uma escolha do vocalista Marcelo, que se sente mais confortável cantando na própria língua materna. Pedro mesmo mudou em relação a este assunto e hoje, mesmo em seus projetos solos, ele percebeu que expressar sentimentos na própria língua é muito mais fácil, mais natural.

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