“Fogo Pálido”, de Vladimir Nabokov
Literatura

“Fogo Pálido”, de Vladimir Nabokov

20 de dezembro de 2016 0

No início do ano que vem lanço o meu primeiro romance, “Um amor como nenhum outro”. As influências mais marcantes são Philip Roth (especialmente o de “Complexo de Portnoy”), Morrissey (tanto pelas letras como pelo seu malvisto, mas muito bom, List of the Lost, pela temática e pelo tamanho), e Nabokov (1899-1977). É sobre este último que vou falar aqui.

“Fogo Pálido” provavelmente seja o melhor livro do autor russo emigrado depois da Revolução Soviética de 1917 – ele era de família rica e “aristocrática liberal” e, como muitos de seus romances, este tem personagens na mesma condição que ele, russos tentando se virar no Ocidente. Mas não é essa a característica que influenciou a escrita do meu romance: foi o “narrador não-confiável”, presente em boa parte de seus melhores livros (“Lolita”, “Ada ou Ardor”, “Desespero”) e que chega à perfeição neste “Fogo Pálido”.

Já pela própria estrutura o livro é muito original: consta de um prefácio de umas 10 páginas, escrito pelo próprio narrador, Charles Kinbote, de um poema de mil versos que ocupa cerca de 28 páginas, chamado “Fogo Pálido” e escrito por outro personagem, o poeta e professor universitário John Shade e, finalmente, das notas de Charles Kinbote, que ocupam as restantes das 236 páginas da minha edição do Círculo do Livro: em outras palavras, as notas ocupam mais de 85% do livro.

O poema do personagem John Shade é autobiográfico e melancólico, falando de dilemas existenciais e da filha falecida, triste e solitária. Já as notas de Charles Kinbote são coisa de doido: refugiado de um país imaginário próximo da Rússia, Zembla, e vizinho de John Shade, Kinbote faz comentários sobre o poema que aparentemente não fazem o menor sentido. Ele relaciona versos que só parecem ter a ver com a vida do próprio poeta com os acontecimentos em Zembla, que passara por uma revolução nos moldes da Russa de 1917. Nas notas (que, na verdade, são o cerne do romance) o leitor fica imaginando o que tem de verdade e o que tem de mentira nas histórias malucas de Charles Kinbote – e Nabokov, genial como sempre, não deixa de dar sinais de que tudo aquilo não passa de uma maluquice de um sujeito com mania de grandeza.

Ao contrário de Nabokov, com meu livro não pretendi dar um nó na cabeça de ninguém. Mas que não dá para confiar no que o meu Raul escreve, ah não dá não.

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