Juvenília, de Charlotte Brontë
Literatura

Juvenília, de Charlotte Brontë

11 de março de 2015 0

Um dos melhores prefácios que já li é aquele escrito por George Orwell para Viagens de Gulliver, romance de Jonathan Swift. O surpreendente neste prefácio é que Orwell, tão fã do livro de Swift que o leu umas doze vezes, fala mal do romance que prefacia. Conta vários defeitos do autor, seus preconceitos e manias, mas acaba se rendendo ao gênio de Swift.

Coisa um pouco diferente é o prefácio do genial As ilusões perdidas, de Choderlos de Laclos. O livro é todo composto por cartas, e os principais personagens do romance não têm o menor caráter. Laclos inventou, no seu prefácio, que tinha simplesmente recolhido e compilado as cartas que eram o próprio romance: e fala mal dos “autores” delas, que não eram mais do que os próprios personagens criados por Laclos. Era uma técnica utilizada na época: dar um verniz de realidade é ficção que se iria ler.

 

Apesar de também falar mal do livro, o prefácio da edição da Penguin-Companhia das Letras de Juvenília, de Jane Austen e Charlotte Brontë, é bastante diferente. A obra compõe-se de textos escritos na adolescência das autoras. No prefácio, Frances Beer não se cansa de criticar o exagero e a falta de matizes dos textos de Jane Austen, e a imaturidade daqueles de Charlotte Brontë.

 

Mas acabou sendo bom ter lido, antes da obra propriamente dita, um texto tão crítico: sem esperar muito, acabei me deliciando com a leitura do livro. Os pequenos contos de Jane Austen, críticos à hipocrisia daquela época (e de todas as épocas) são extremamente vivazes e engraçados – qualidades que ela não perdeu nas obras-primas da maturidade. Já os textos de Charlotte Brontë contam a história do reino fictício de Angria, e do seu rei Zamorna – que no início é uma pessoa de excelente caráter mas que o poder acaba corrompendo. A edição da Penguin-Companhia das Letras é uma seleta dos textos de Charlotte Brontë que tratam de Angria, e muitos trechos são apresentados apenas em um rápido resumo. Isto, mais o fato de que Zamorna vai mudando de nome a medida que a obra vai evoluindo, dificulta um pouco a leitura. Não importa. Os textos de Juvenília sob responsabilidade de Charlotte Brontë têm uma excelente penetraçãoo psicológica, e sempre despertam o interesse do leitor.

(texto escrito em 2015)

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