“Confucius”, de Meher McArthur
Filosofia

“Confucius”, de Meher McArthur

17 de outubro de 2016 0

Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.) é provavelmente o chinês mais importante da história. Desde a sua morte seus ensinamentos têm sido parte importante da tradição e costumes não só da China, como também de países vizinhos como o Japão, a Coreia e o Vietnã. Recentemente, a relevância dos ensinamentos de Confúcio na China continental tem aumentado significativamente, depois da tentativa do ditador Mao Tsé-Tung de  fazer com que a cultura chinesa voltasse à estaca zero – eliminando, ou tentando diminuir a importância,  de tradições como o budismo, o taoísmo e o confucionismo. Para que se tenha uma ideia da sua importância na China atual, o instituto de difusão internacional da língua e cultura chinesas, equivalente ao alemão Instituto Goethe, chama-se Instituto Confúcio (sim, e tem no Brasil). “Confucius”, da historiadora escocesa Meher McArthur, é uma ótima introdução à vida e aos ensinamentos do verdadeiro arquétipo do “sábio chinês”.

Diferentemente de outras tradições milenares, o confucionismo não se importa muito com a vida após a morte; ao contrário, ele é uma espécie de manual de comportamento bastante prático, que pode ser seguido por virtualmente qualquer um – interessante observar, neste sentido, que os padres jesuítas que tentaram convencer os chineses a se converter ao catolicismo a partir do sec. XVI se entusiasmaram bastante com o confucionismo, não vendo grandes incompatibilidades entre as duas grandes doutrinas. Confúcio pregava um profundo respeito aos antepassados e aos ritos ancestrais, a dedicação aos estudos, a criação de uma burocracia de grande capacidade intelectual (a China, inclusive, foi o primeiro país a promover concursos públicos para cargos de Estado), a valorização da família, a moralidade estatal e harmonia entre as pessoas de maneira geral. Confúcio pregava também a volta aos tempos da antiga dinastia Zhou (1050 a.C. -770 a.C.), uma “era de ouro” na qual os dirigentes eram geralmente benevolentes e os súditos, felizes e respeitadores da lei – bem distinta da época em que ele próprio viveu, de anarquia social e frequentes disputas de territórios entre diferentes reinos.

De família de classe média, foi professor a maior parte da vida e tinha conhecimento profundo das tradições, da história, da literatura e da música chinesas. Ele acreditava que seus ensinamentos seriam importantes para o bom andamento do Estado, e seu grande desejo era ser assessor de algum rei. Deste modo, Confúcio foi literalmente batendo de porta em porta, de reino em reino, oferecendo seus préstimos para auxílio na administração estatal. Se fosse só isso, quem sabe ele conseguisse mesmo um empreguinho de baranabé em algum canto e ficasse por ali mesmo. O problema é que ele exigia dos reis da época a mesma moralidade que exigia de si mesmo: como nunca conseguia atingir este objetivo, simplesmente caía fora e ia procurar algum rei melhor. Era moralmente tão exigente que passou fome diversas vezes por não conseguir quem lhe desse o emprego que queria – e morreu frustrado por não ter conseguido implementar suas ideias de administração estatal.

O lado bom da história é que nestas andanças daqui para lá pela China ele era acompanhado por seus discípulos, e as conversas entre eles acabaram sendo, bem mais tarde, compiladas e reunidas num livro chamado “Analectos”, que é a principal obra do confucionismo, de leitura obrigatória para quem quer seguir carreira no estado chinês até os dias de hoje.

Nada como um dia depois do outro, né?

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