Meus discos preferidos: 5. “The Stone Roses” – The Stone Roses
Música

Meus discos preferidos: 5. “The Stone Roses” – The Stone Roses

8 de outubro de 2016 0

Eu preferia não ter que fazer, pela enésima vez, a relação de alguma coisa com “Limite”, de Mário Peixoto. Mas é difícil – pelo menos para mim – não comparar o álbum de estreia da banda inglesa The Stone Roses, homônimo, de 1989, com o filme brasileiro clássico de 1931.

Vamos às comparações mais óbvias. São dois lançamentos de juventude: Ian Brown, o vocalista do Stone Roses, tinha 23 anos quando do lançamento do álbum, mesma idade de Mário Peixoto quando do lançamento de “Limite”. Tanto a banda quanto o cineasta tiveram um pesado bloqueio criativo depois de suas estreias: “Second Come”, o segundo e último álbum do grupo, foi lançado cinco anos depois da estreia, enquanto que Mário Peixoto nunca mais lançou outro filme – embora tenha lançado romances e poesias depois de “Limite”. Outra coincidência: nada do que a banda ou o cineasta tenham lançado posteriormente chegou – nem remotamente – perto da importância ou da qualidade artística de suas estreias.

Do mesmo modo, os dois lançamentos fazem parte de um movimento cultural mais amplo – a vanguarda europeia no caso de Mário Peixoto, o pop britânico com forte influência dos Smiths (que posteriormente seria chamado de britpop), no caso do Stone Roses – mas, de um modo mais profundo, não se parecem com nada que tenha vindo antes ou depois. Tanto o filme de Mário Peixoto como o disco do Stone Roses são obras tão perfeitas que parecem abrir um novo campo na arte, não deixando arestas, como se criassem um mundo à parte.

E é espantoso pensar que duas obras tão bem realizadas e originais não tenham deixado, na prática, seguidores. Se é fato notório que “Limite” não teve nenhuma influência no cinema posterior (brasileiro ou estrangeiro), isto não é tão fácil de perceber no caso do Stone Roses. Afinal de contas, os ótimos irmãos Gallagher, do Oasis, por exemplo, gostam tanto da banda de Ian Brown que imitam até o penteado do vocalista.

Mas o fato é que quando ouço o som amplo, luminoso, delicado e melodioso de faixas com nomes estranhos como “I Wanna Be Adored”, “Elephant Stone” e “I Am The Ressurrection”, ou as maravilhosas “Waterfall” e “Bye Bye Badman” (que não estava na versão original), eu sinto que não tem nada parecido no mundo. Dá para perceber influências dos Smiths e música eletrônica, por exemplo, aqui e ali, mas o álbum “The Stone Roses” é único.

Dá para entender o bloqueio criativo da banda depois de uma estreia destas.

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