Meus discos preferidos: 10. “Lisboa” – Madredeus
Música

Meus discos preferidos: 10. “Lisboa” – Madredeus

2 de agosto de 2016 0

Sempre que eu penso no álbum duplo ao vivo “Lisboa”, do grupo português Madredeus, de 1992, eu penso num ápice antes da decadência fatal. Sim, eu sei que é uma impressão injusta: “O Espírito da Paz”, de 1994 e “O Paraíso”, de 1997, são álbuns superiores a “Os Dias da Madredeus” (1987) e “Existir” (1990), cujas músicas servem de base a este monumental “Lisboa”. Mas eu vou tentar me explicar.

“Os Dias da MadreDeus”, o primeiro álbum, espanta quem conheceu a banda nos discos seguintes pelo amadorismo das gravações e pela voz – como direi – inexperiente da espetacular Teresa Salgueiro: o fato é que, neste disco, ela parece outra pessoa cantando. Já no álbum seguinte, “Existir”, tudo é mais profissional e a vocalista do Madredeus já era a cantora que passamos a admirar então – e que teve uma carreira absolutamente irretocável até o lançamento de outro duplo ao vivo, “O Porto” (1998), mas esta é outra história.

Bem, voltando a “Lisboa”: o primeiro choque que se sente na sua audição é o contraste entre as gravações das mesmas músicas lançadas anteriormente em “Os Dias da MadreDeus”. Experimente comparar as duas versões de “O Fado do Mindelo”, “A Cantiga do Campo” (arrepiante ao vivo) e “A Vaca de Fogo” para saber do que estou falando: o que era apenas uma esperança no disco de estúdio vira uma maravilhosa realidade ao vivo. Quanto às gravações das canções lançadas anteriormente em “Existir”, como “O Pomar das Laranjeiras”, “Cuidado” e “Vontade de Mudar” (uma das músicas mais belas e tristes que já ouvi), “Lisboa” mantém o pique, com uma ligeira vantagem. E isso não é fácil.

Como se não bastasse, o disco tem faixas maravilhosas que aparecem só aqui.  Temos canto da nossa Teresa Salgueiro acompanhada apenas pela guitarra portuguesa de Carlos Paredes nas espetaculares “Mudar de Vida” e “Canto de Embalar”, e a animada “A Estrada do Monte” – uma das melhores faixas da carreira do grupo.

Enfim, a sensação de este ser o ápice antes da decadência não se deve só à qualidade do disco: “Lisboa” tem uma alegria, uma força, um entusiasmo que começaram a rarear nos discos seguintes do Madedeus. E olha que eles ainda lançaram muita coisa boa (excelente, na verdade) depois deste disco.

Mas já tinham chegado ao seu ápice.

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