Claus Schenk Graf von Stauffenberg
História

Claus Schenk Graf von Stauffenberg

16 de março de 2016 0

A resistência anti-nazista alemã dentro do exército

Conforme visto na página sobre a Noite dos Longos Punhais, por exemplo, (http://fabricio.diaryland.com/longospunh.html) não foi o exército alemão (a Wehrmacht) que colocou Hitler no poder – os expurgos daquela noite foram uma forma que Hitler encontrou para tirar poder da S.A. e, ao mesmo tempo, dar poder às S.S. e agradar o exército. À medida que Hitler foi nazificando a Alemanha a partir da tomada do poder em 1933, obviamente, grande parte da Wehrmacht foi ficando do lado do Nazismo – mesmo assim, o exército alemão abrigava importantes focos de resistência a Hitler.

O principal grupo de resistência da Wehrmacht era liderado pelos oficiais Goerdeler, Beck, Witleben e Tresckow. Este grupo desejava construir um governo alemão sob bases cristãs. Após assassinar Hitler, eles planejavam tomar o poder e fazer uma paz em separado com a frente ocidental. Mas para dar uma idéia da mentalidade alemã da época, em muitos aspectos incompreensível sob um ponto de vista atual, os anti-nazistas eram na maioria anti-semitas, pretendiam continuar a guerra contra a União Soviética e não tinham intenção de devolver muitos dos territórios conquistados por Hitler. Isto, somado ao fato de que as os atentados contra o ditador alemão terem se intensificado quando a guerra estava virtualmente perdida, de certa forma tira o brilho das tentativas dos revoltosos – mas não se pode negar a coragem destes homens que deram suas vidas para livrar mundo do tirano mais sanguinário da História.

Primeiros atentados e Stauffenberg

A resistência dentro da Wehrmacht foi responsável por uma série de atentados fracassados contra a vida de Hitler – alguns deles, inclusive, não deram certo por um azar incrível, como na ocasião em que a espoleta de uma bomba colocada dentro do avião onde estava o ditador simplesmente não detonou. Mas o atentado mais importante de todos, e que ocasionou uma reação tão cruel e sangrenta por parte de Hitler que chocou os próprios alemães, ocorreu em 20 de julho de 1944, e foi perpetrado pelo Coronel Conde von Stauffenberg – um homem letrado, culto, amante dos esportes, de grande liderança pessoal, estatura e beleza física. Antes do atentado contra a vida de Hitler, Stauffenberg tinha perdido a mão direita, dois dedos da esquerda e o olho direito, quando o carro onde estava passou sobre uma mina – ele sofreu ainda sérios ferimentos na orelha esquerda e num joelho.

Planejamento

A principal dificuldade que o grupo de resistência anti-nazista estava encontrando para realizar os atentados era um método de segurança que Hitler utilizava: ele freqüentemente desrespeitava sua agenda de compromissos, e os locais e horários de seus compromissos raramente eram sabidos com antecedência – o que dificultava sobremaneira o planejamento dos atentados. Por isto, o grupo de Goerdeler decidiu que o perpetrador do atentado seria alguém que efetivamente tivesse acesso a Hitler em suas reuniões diárias com o comando militar alemão no quartel-general de Rastenburg – na qualidade de Chefe do Estado-Maior do Exército da Reserva, Stauffenberg freqüentemente era o homem que preenchia esta condição, e por isto foi escolhido como o homem que mataria Hitler.

Além do atentado, os revoltosos anti-nazistas pretendiam tomar inicialmente Berlim, pouco guarnecida pois a grande maior parte do exército estava nas frentes de batalha. A partir da capital alemã partiria inicialmente a informação da morte do ditador, da formação de um novo governo e as ordens de obediência a este novo gabinete. (Os revoltosos, inclusive, tinham diversos simpatizantes entre os oficiais espalhados pela Europa dominada, que também participariam do golpe a partir de seu início.) Tudo isto teria de ser feito rapidamente, a fim de que os nazistas não tivessem tempo de se reorganizar (isto, como se verá, acabou não ocorrendo – a demora e a hesitação dos anti-nazistas foi fatal para seus planos).

O atentado

Depois de algumas tentativas frustradas por parte de Stauffenberg, o dia do atentado acabou sendo marcado para 20 de julho de 1944, quando o perpetrador tinha uma conferência para apresentar a Hitler no quartel-general em Rastenburg. Stauffenberg levaria uma mala com uma bomba dentro, a qual deveria explodir dez minutos após a detonação.

Na véspera do atentado, Stauffenberg entrou numa igreja católica para uma prece. No dia marcado ele tomou um avião em Berlim às sete, chegando em Rastenburg depois das dez da manhã. Lá, aonde Hitler vivia e trabalhava, a segurança era intensa: até o mais importante general necessitava de um passe especial para entrar – existiam ainda três círculos fortificados com explosivos e arame farapado em volta do quartel de Hitler. Mas como o próprio Hitler tinha pedido para que Stauffenberg se apresentasse, este não teve grande dificuldade para entrar. Lá dentro, Stauffenberg despistou o anfitrião, General Keitel, comandante máximo do Exército alemão depois de Hitler, e com os três dedos que ainda lhe restavam detonou a bomba, que explodiria dali a dez minutos. Ele então entrou na sala, onde estava Hitler, colocou a mala com a bomba embaixo da mesa de reuniões, em volta da qual os presentes estavam reunidos, inventou uma desculpa e saiu. Stauffenberg estava já a uns duzentos metros do local quando a bomba finalmente explodiu – ele viu o explosão, a fumaça se espalhando com o impacto e alguns corpos saindo pela janela. A explosão foi tão intensa que ele teve certeza que ninguém sairia dali vivo. Tomou então o avião de volta de Rastenburg para Berim certo de que o atentado fora vitorioso e que Hitler falecera durante o mesmo.

Mas Hitler não estava morto – e isto por um incidente incrível, tão grande que ele considerou que foi graça da Providência Divina. O Coronel Heinz Brandt estava prestando atenção no que acontecia sobre a mesa de reunião de modo tão concentrado que quis se apoiar sobre ela – nisto percebeu que havia uma mala que atrapalhava seu o pé. Então ele tirou a mala de onde estava e colocou-a atrás de um pesado suporte de apoiava à mesa, também pesadíssima. Com isto o suporte passou a se interpor entre Hitler e a mala – e foi exatamente este suporte que amorteceu o impacto da bomba para o ditador nazista, que sofreu apenas queimaduras e escoriações. Brandt e mais três presentes faleceram em virtude da explosão, e todos no local ficaram mais ou menos seriamente feridos.

Fracassam dos revoltosos

Os anti-nazistas, a seguir, cometeram uma série de erros fatais. Os revoltosos foram omissos, indecisos, até mesmo medrosos. Muitos queriam de qualquer maneira saber se Hitler tinha de fato falecido no incidente, o que atrasou em muito o início das ações. Não aproveitaram o corte das comunicações que um dos revoltosos promoveu, isolando Rastenburg do resto da Alemanha. Não movimentaram as tropas na hora previamente escolhida, mas esperaram a volta de Stauffenberg a Berlim (ele chegou três horas depois do atentado a Berlim, vindo de Rastenburg). Não tomaram o centros de comunicação de telefone, rádio e TV. Não prenderam o Ministro da Propaganda do Reich, Joseph Goebbels, o único ministro alemão em Berlim, e nem atacaram os quartéis da Gestapo e da SS. Deram também a um oficial não envolvido com a conspiração um posto-chave na revolta.

Quando finalmente Stauffenberg chegou a Berlim, tomou iniciativa e, mesmo quando teve certeza que Hitler, ao contrário do que tinha pensado, sobrevivera, continuou insistindo na notícia de sua morte, para incitar a ação dos revoltosos. Fez tudo o que era possível, com grande coragem e bravura. Mas era tarde demais. Os nazistas tomaram conta da situação, dando ordens para que não fossem obedecidos comandos dos revoltosos, e a partir das nove horas da noite já se anunciava que Hitler falaria ao rádio à nação sobre a conspiração – o que acabou fazendo à uma da madrugada, prometendo vingança contra os que participaram da tentativa de golpe: “desta vez acertaremos as contas com eles (os revoltosos) da maneira como nós, nacional-socialistas (nazistas), estamos acostumados” – como em outras ocasiões semelhantes, Hitler cumpriu sua palavra.

Stauffenberg e dois companheiros de revolta, os generais Beck e Hoepner, foram executados por fuzilamento em 20 de julho mesmo, em torno das dez da noite pelo comandante-chefe do Exército de Reserva, o General Fritz Fromm. Fromm tinha sido simpatizante dos anti-nazistas, mas a ele interessava eliminar os revoltosos não só para cair nas boas graças de Hitler, como também para eliminar provas, pois Stauffenberg e seus colegas poderiam delatá-lo, já que ele sabia dos planos de matar Hitler há muitos meses e tinha acobertado os revoltosos. De qualquer modo, a atitude de Fromm matando Stauffenberg não serviu para acalmar Hitler, e Fromm foi executado em 19 de março de 1945 por fuzilamento (possivelmente ter sido fuzilado – o que é mais honroso que ser enforcado – foi um pequeno reconhecimento a seu serviço vital, ajudando a salvar o regime nazista).

Consta que as últimas palavras de Stauffenberg foram “Viva a nossa sagrada Alemanha” ( é importante ressaltar que até hoje, na Alemanha, em 20 de julho é comemorado o “dia Stauffenberg”, em reconhecimento à sua coragem).

A vingança de Hitler

Quanto a Hitler, sua sede de vingança não teve limites (para se ter uma idéia, parentes e conhecidos das pessoas envolvidas no levante eram levados para campos de concentração). Não vale a pena se alongar muito neste ponto, mas mesmo os generais simpatizantes à causa nacional-socialista ficaram horrorizados com o que se seguiu. Os oficiais eram julgados no Tribunal do Povo (e não por um Tribunal Militar, como seria de se esperar) e se apresentavam em roupas civis, abatidos depois de longas sessões de tortura, com a barba por fazer e sem cintos ou suspensórios, para que suas calças ficassem caindo – tudo com finalidade de aumentar a humilhação dos réus. O juiz Ronald Freisler, um maníaco vil e imoral (a ponto de sua própria família ter tirado seu sobrenome após a sua morte – e possivelmente o segundo homem mais frio e cruel da história do nazismo depois de Heydrich) xingava sem parar os réus, não dando oportunidade para que eles pudessem responder – aliás, os próprios advogados de “defesa” chegavam a ajudar na acusação. Duas horas depois da sentença – morte por forca – os condenados eram executados de forma cruel: cordas de pianos, penduradas por ganchos de açougue, envolviam o pescoço dos condenados – os ganchos subiam lentamente, para aumentar seu sofrimento. Nas primeiras execuções este horror foi filmado, e o filme foi mostrado a Hitler e seus asseclas – na ocasião, consta que Goebbels pôs a mão diante dos olhos para não desmaiar. (O mesmo Goebbels tentou mostrar o filme das execuções e dos julgamentos a certos grupos do exército numa apresentação – mas os militares se recusaram a assisti-los, retirando-se logo no início da exibição. Depois os filmes foram retirados de circulação – o dos julgamentos existe até hoje, e presume-se que o filme das execuções tenha sido destruído por ordem de Hitler, para que o mesmo não caísse nas mãos dos inimigos.) E a matança continuou de maneira avassaladora: antes de serem executados, através de tortura os réus acabavam delatando outros envolvidos – e o processo continuava, rápido e cruel. O número de condenados a morte varia, segundo estimativas, entre 4800 e 7000.

Os julgamentos no Tribunal do Povo continuaram por vários meses, até que em 3 de fevereiro de 1945 uma bomba americana caiu sobre este Tribunal, matando o facínora juiz Freisler e destruindo dossiers relativos à maioria dos acusados ainda vivos.

(texto escrito em 14/7/2001)

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