Coritiba campeão brasileiro de 1985
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Coritiba campeão brasileiro de 1985

14 de março de 2016 0

Já faz 16 anos – no final daquele ano memorável de 1985, em que o Coritiba foi campeão brasileiro, eu assisti uma retrospectiva na TV aonde foi dito que ainda ia demorar muito tempo para o Coritiba ganhar outro Campeonato Nacional. Na hora eu fiquei com raiva… mas realmente 16 anos é muito tempo, sob qualquer parâmetro. O que não impede que eu comemore a data, não é? O Campeonato foi marcado por lances dramáticos. Eu lembro de alguns detalhes daqueles dias (alguns bem imprecisos, como vocês poderão ver), e é deles que eu vou tratar aqui.

* Este sinal (*) ao lado representa a estrelinha que o Coritiba ostenta até hoje devido ao único campeonato nacional ganho por uma equipe paranaense.

* A importância do jogador Lela na conquista do Campeonato Brasileiro de 1985 ainda precisa ser mais levada em conta – ele tinha um controle de bola excepcional, além de ter feito diversos gols decisivos. Provavelmente se ele tivesse um visual melhor e o povo brasileiro não fosse tão preconceituoso, ele poderia ter ido para a Seleção.

* O que o goleiro Rafael jogou na semifinal, no Mineirão, e na final, no Maracanã, foi realmente uma enormidade – de certo modo, estas atuações serviram para ofuscar um pouco tanto o Lela, quanto o título em si. Pode-se pensar que quem tem um goleiro daqueles não precisava nem de time. E ele não jogou na Seleção que foi pra Copa de 1986 – o técnico Telê Santana ficou em dúvida se o convocava ou não até o último momento da última convocação. Ele acabou não sendo convocado por jogar num time paranaense e não carioca ou paulista, e também por ser baderneiro.

* O time do Coritiba tinha um grande técnico, o Enio Andrade, já falecido, e que já tinha sido duas vezes campeão brasileiro. Ele era técnico da chamada “escola gaúcha”, que privilegia a força e o conjunto em detrimento da técnica. Bem, é o que dizem, né? E, realmente, o Coritiba tinha na defesa outro ponto forte: dois cabeças de área, Almir e Marildo, uma dupla de zaga pra lá de segura, Eraldo e Gomes, e dois laterais muito bons, o André na direita e o Dida, que chegou a jogar na Seleção, na esquerda.

* O regulamento daquele campeonato foi um caso à parte. Quem se queixa das confusões de calendário de hoje não deve lembrar que naquele tempo a coisa era (ainda) pior, como se fosse possível. Eram 24 (acho) clubes no Módulo Azul (era este o nome? provavelmente não), que era a “primeira divisão” de hoje: Flamengo, Corinthians, Vasco, todos os grandes, incluindo aí o Coritiba. No Módulo Amarelo os outros times, a “segunda divisão” de hoje. Pois bem. O regulamento maluco daquele campeonato previa que oito times de cada Módulo classificar-se-iam para a segunda fase, aonde então eles se reuniriam em quatro grupos de quatro clubes cada – o campeão de cada um destes quatro grupos classificar-se-ia para a semifinal. Deste modo, o regulamento foi bastante injusto, pois dava pesos iguais (oito clubes classificados por módulo) para grupos desiguais (o módulo azul era composto pelas melhores equipes).

* O regulamento de cada módulo, então, era outro samba do crioulo doido: cada módulo era formado por 24 clubes (eu acho) dividido em dois subgrupos de doze. Estes dois subgrupos de doze jogavam em dois turnos: no primeiro turno as equipes jogavam contra adversários do próprio subgrupo, e no segundo turno jogavam contra adversários do outro subgrupo. Os vencedores (e vice, será?) de cada turno em cada subgrupo se classificavam.

* A classificação do Coritiba para a segunda fase veio só no último minuto, com um gol de Lela contra o Santos, no Couto Pereira. Eu estava na chácara ouvindo rádio e quando o Lela fez o gol da classificação eu saí correndo, e, como a grama estava molhada, escorreguei e caí. Rárárárá. Que informação idiota.

* Nesta fase a grande vitória do Coritiba, fora esta do Santos, foi contra o Flamengo no Maracanã. O Flamengo, no domingo, tinha enfiado seis no Botafogo. Os mais otimistas entre os torcedores do Coritiba achavam que 2 a 0 pro Mengo já estaria ótimo. Mas o Coritiba venceu, com um solitário gol do cabeça de área Marildo, numa virada no centro da grande área.

* Entre a primeira e a segunda fase transcorreram uns três meses – acho que foram as férias.

* Quais os adversários do Coritiba na segunda fase, antes da semifinal? Sabe Deus. Acho que o Sport e o Corinthians estavam no grupo vencido pelo Coritiba.:)

* No primeiro jogo da semifinal, contra o Atlético Mineiro, o Coritiba venceu por um a zero, gol de Eraldo, acho, e meteu três bolas na trave. Foi um verdadeiro show de bola, onde o Coritiba jogou bonita e ofensivamente. Pergunta pra algum dos muitos detratores do Campeonato de 1985 se eles citam este jogo? Necas.

* No segundo jogo, no Mineirão, o Rafael realmente fez milagres e o Coritiba jogou todo atrás – acabou, graças, a Deus, em zero a zero. Um colega, que nem era fanático, foi assistir o jogo no Mineirão e disse que viu um monte de gente chorando depois que o Atlético foi desclassificado – eles queriam fazer a final contra o Bangu, pois não é nenhum demérito, ao contrário do que se diz por aí. Acho que neste jogo meus amigos Zilli, Magalhães e Aírton foram assistir na minha casa (eu achava que o Renê tinha ido lá também, mas acabei de telefonar pra ele e ele me disse que não foi) e meio que se hospedaram lá por uns dias (até a final, se não me engano), pois eram as férias. Minha mãe levou-nos no centro da cidade para as comemorações – e o Aírton festejou a vitória, por mais que torcesse para o Colorado (um time que não existe mais), numa bela postura de amor ao estado do Paraná que hoje não se vê mais – pensando bem, ainda bem que isto não existe mais. Eu mesmo torci para o Atlético em 1983, quando o Atlético chegou na única semifinal de campeonato brasileiro de toda a sua história – o Coritiba chegou em três (1979, 1980 e 1985) além de duas semifinais de Copa do Brasil (1991 e 2001).

* A final foi num único jogo contra o Bangu no Maracanã, e o Coritiba venceu por 6 a 5 nos pênaltis (apenas o jogador Ado, do Bangu, errou) após um empate em um a um no tempo normal. No segundo tempo o bandeirinha não deu um impedimento clamoroso contra o Coritiba e que resultou num gol de Marinho, corretamente anulado pelo juiz Romualdo Arpi Filho. Este erro absurdo do bandeirinha fez com que o título do artigo do jornalista Juca Kfouri na revista Placar a respeito deste jogo fosse: “E o Coritiba ganhou até do bandeirinha”. No artigo, Juca Kfouri comentava as dificuldades que o Coritiba passou naquele ano pois, além de ter jogado sempre contra os melhores adversários (ao contrário do Bangu, vindo do módulo amarelo), o Coritiba teve contra si a torcida na final, e last, but not least, o bandeirinha, “pelo visto muito amigo do doutor” Castor de Andrade (famoso bicheiro, já falecido, e patrono do Bangu).

(texto escrito em 21-8-2001)

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