“Nero: the end of a dinasty”, de Miriam T. Griffin
História

“Nero: the end of a dinasty”, de Miriam T. Griffin

30 de novembro de 2015 0

Considerada uma das melhores biografias do imperador romano, “Nero: the end of a dinasty”, de Miriam T. Griffin, não só apresenta a complexa personalidade do tirano, como tenta contextualizar seu governo em relação ao dos demais imperadores da dinastia julio-claudiana, iniciada por Júlio César e terminada por ele próprio.

Nascido no ano 37 d.C., Nero chega ao poder em 54 d.C., aos 16 anos. Uma série de revoltas militares acaba por fazer com que ele se suicide em 68 d.C., aos 30 anos de idade. Os historiadores romanos (basicamente Suetônio, Tácito e Dião Cássio) que escreveram os relatos em que grande parte da pesquisa histórica atual sobre Nero é baseada viveram muitas décadas depois da morte dele, já durante a dinastia flaviana. Muito por causa disto, seus relatos são francamente desfavoráveis ao imperador: grande parte do trabalho dos historiadores contemporâneos, deste modo, é tentar expurgar dos relatos antigos tudo o que era exageradamente negativo contra ele, fruto da opinião predominante da época em que foram escritos. O Nero que emerge do livro de Miriam T. Griffin (assim como de outras biografias dele que li, notadamente a ótima “Nero”, de Edward Champlin) é o de uma personalidade extremamente complexa.

Sim, ele colocou fogo em Roma e perseguiu cristãos, mas era amado pela plebe e ajudou a socorrer os desabrigados pelo grande incêndio. Ele era um devasso sexual (era adepto, inclusive, da teoria de que todos os seres humanos no fundo também o são), mas conseguia se apaixonar de verdade – notadamente por sua amante Cláudia Acte e por sua segunda mulher, Popeia Sabina. Ele participava de muitas competições de corridas de cavalos, poesia e música e ganhava todos os primeiros prêmios não pelo talento, mas por ser Imperador; mas se dedicava de maneira séria às competições, ficando bastante nervoso antes delas inclusive. A ideia geral que as pessoas têm de Nero era de alguém sem talento, mas que se achava genial: só que mesmo os historiadores antigos reconheciam nele um poeta talentoso (infelizmente, praticamente tudo o que ele escreveu se perdeu). Mesmo a a última frase dita por ele, normalmente apresentada como “que grande artista o mundo vai perder”, para Edward Champlin na verdade era, numa tradução correta, algo como “estou pior do que um artesão” – já que em seus momentos finais Nero tinha perdido praticamente tudo. Ele mandou matar a própria mãe, Agripina, mas tinha medo de ter sido amaldiçoado por isto.

Aliás, sua história com a mãe é profundamente trágica: de família nobre, ela fez de tudo para que seu filho assumisse o poder – e, quando o conseguiu, tentou dominá-lo para literalmente mandar no Império. Quando Nero se revoltou contra este estado de coisas, Agripina passou a atuar contra o governo do filho. A história dele com a mãe faz pensar se Pausânias (citado por Miriam T. Griffin) não tinha razão ao justificar o comportamento violento de Nero a partir da teoria de Platão segundo a qual

“os maiores e mais violentos crimes são cometidos não pelas pessoas normais, mas pelas almas nobres corrompidas por uma educação inadequada”.

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