O bom exemplo da Argentina
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O bom exemplo da Argentina

9 de setembro de 2015 0

Por mais que o Galvão Bueno insista em fazer crer que os argentinos sejam todos nossos rivais (eu mesmo estou longe de negar completamente esta rivalidade), há um tipo particular de brasileiro que, em grande parte, admira e tenta mesmo imitar os argentinos: os verdadeiros torcedores de clubes.

Eu mesmo nunca assisti a um jogo de futebol na Argentina, mas já li alguns relatos na imprensa que me impressionaram – e muito. Por exemplo, na Folha Online de 29/08/2001 o jornalista Paulo Cesar Martin faz um emocionante relato do que é ser torcedor de futebol na Argentina. Ele conta que assistiu a um jogo do Boca Juniors contra o Palmeiras em Buenos Aires e que ficou fascinado como, mesmo com o time argentino jogando mal, em nenhum momento a torcida para de apoiá-lo. Segundo Martin, a relação do argentino com seu clube de coração vai muito além do simples fato de torcer pelo time. Existe, acima da veneração aos jogadores, o amor pela instituição, pelo bairro, pelas cores do clube. Obviamente, no final do seu texto Martin compara a apaixonada torcida argentina com a exigente e negativista torcida brasileira.

Esta mesma comparação é o cerne do texto de Marcos Caetano no Estadão de 28 de abril de 2003. Segundo Caetano, “a diferença entre os torcedores brasileiros e argentinos é muito evidente e fácil de explicar. Enquanto os argentinos amam o clube de uma forma quase religiosa – e sem esperar nada em troca -, (…) o torcedor brasileiro não ama o esporte. Ama apenas e tão somente as conquistas. Existem muitas maneiras de amar. Mas eu, romântico incorrigível, prefiro a das tardes da Bombonera.”

Finalmente, na Folha de São Paulo de 29 de junho de 2003, o brilhante comentarista Tostão escreve, sobre o primeiro jogo da final da Libertadores de 2003, na Argentina, entre Boca Juniors e Santos: “o Boca Juniors ganhava do Santos por 1 a 0, seria importante para os argentinos fazerem o segundo gol, e o técnico Carlos Bianchi trocou um atacante por um volante. (…) Se um técnico brasileiro, jogando em casa, recuasse o time, seria criticado e chamado de burro pelos torcedores. Esses continuaram dançando, cantando e torcendo. Como se diz no jargão do futebol, Bianchi não tem somente o time nas mãos, mas também a torcida.”

O leitor já deve ter adivinhado aonde quero chegar, com estes exaustivos exemplos. O que eu quero dizer é que com grande satisfação que tenho visto, no Couto Pereira, a torcida coritibana cada vez mais vibrante, cada vez mais participante, cada vez mais positiva, cada vez mais argentina – no que este termo tem de melhor. É claro que continuamos a ter o desprazer de ver pessoas no estádio preocupadas apenas em criticar o próprio time – como se isto levasse a alguma vantagem para o Coxa. Mas estes negativistas estão cada vez menos salientes – seja pelo belo exemplo que a Torcida Império Alviverde tem dado, apoiando o time sempre durante os 90 minutos, na vitória ou na derrota, seja pelas seguidas interpelações que os “cornetas” começam a sofrer dos demais torcedores para que mudem seu comportamento.

Muito ainda precisa ser feito, claro. Mas estamos no caminho correto, não tenho a menor dúvida quanto a isto.

(texto publicado no site COXAnautas em 15/7/2003)

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