“2666”, de Roberto Bolaño
Literatura

“2666”, de Roberto Bolaño

5 de agosto de 2015 0

Saudado pela crítica mundial como um dos melhores livros da década, 2666, do escritor chileno Roberto Bolaño (Companhia das Letras), é um assombro – um dos melhores romances que já li.

2666, que tem mais de 800 páginas na edição nacional, é composto, na verdade, por cinco livros mais ou menos relacionados. O primeiro conta a história de alguns críticos especialistas em um escritor alemão fictício, Benno von Archimboldi, e o quinto é a história deste próprio escritor. O segundo livro é sobre um professor mexicano, o terceiro sobre um jornalista americano, e o quarto sobre uma série de assassinatos ocorridos na cidade de Santa Teresa, no México, que é o ponto comum das cinco histórias. 2666 foi publicado postumamente, e escrito enquanto Roberto Bolaño estava praticamente desenganado pela medicina –  a ideia do escritor, que acabou mesmo falecendo em 2003, era que as cinco partes fossem publicadas separadamente para assegurar a independência financeira dos filhos. A própria família de Bolaño acabou decidindo publicar o livro de forma integral.

Parece não haver nada sem importância em 2666 – e tudo é contado com a mesma seriedade. Às vezes o escritor descreve em detalhes o que um personagem comeu num café da manhã, às vezes a descrição de um sonho se estende por diversas páginas, às vezes a história de um personagem totalmente secundário é contada com uma enorme diversidade de detalhes. O amplo painel que é 2666 conta histórias e mais histórias sobre uma grande quantidade de personagens – loucos, assassinos, policiais, escritores, poetas, pintores, militares, críticos (para que se tenha uma ideia para até onde vai a impressionante imaginação de Roberto Bolaño, um dos personagens mais marcantes do livro só aparece nele porque seus diários foram encontrados na casa em que morava – em uma aldeia que era habitada majoritariamente por judeus e que foi arrasada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial – pelo já citado escritor fictício Benno von Archimboldi). Nada parece fora de lugar no livro de Bolaño – por mais que, paradoxalmente, grande parte dos acontecimentos não faça parte do fluxo principal da narrativa. Acontece que não há um fluxo principal em 2666, obra-prima em que cada palavra é saboreada com prazer.

(publicado no blog do Mondo Bacana em 3 de setembro de 2010)

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