John Coltrane
Música

John Coltrane

2 de junho de 2015 0

Eu tenho uma impressão meio boba sobre o cinema, que é a seguinte: pra mim, tanto “Limite”, de Mário Peixoto, quanto os filmes do sueco Ingmar Bergman não são bem cinema, são outra coisa. Como é que eu posso explicar isso, não sei. É óbvio que Limite e Bergman são cinema – mas pra mim a coisa é e não é bem assim. Quando penso em cinema (em John Ford ou Yasujiro Ozu, por exemplo) penso em filmes, atores e diretores que fazem parte da história do cinema. Já Bergman e Limite, pra mim, são tão extraordinários que estão à parte. Não fazem parte da história do cinema. É, eu sei que isso é bobo.

De todo modo, com uma exceção que comentarei a seguir, isto não me acontece em outros ramos da arte. Por mais que eu goste de Bach e Schumann, nunca me passa pela cabeça que os dois não façam parte da história da música erudita; ou que Mississippi Fred McDowell e Sonny Boy Williamson não façam parte da história do blues; ou que Jean-Marie Gustave Le Clézio ou Gabriel García Márquez não façam parte da história da literatura; ou que Electric Wizard ou Velvet Cacoon não façam parte da história do metal; ou que Morrissey e Bones não façam parte da música pop.

A exceção é o saxofonista John Coltrane (1926-1967) com o jazz. Algum conhecedor da história dele poderia pensar que isso se deve ao fato de que seu disco “A love supreme”, de 1965 (quase sempre presente nas listas dos melhores discos do estilo em todos os tempos) “tentou ser um álbum espiritual, representativo de uma luta pessoal pela pureza, mostrando uma profunda gratidão como artista, ao mesmo tempo que admite que seu talento não é propriedade sua, mas a de um poder espiritual mais alto” (obrigado, Wikipedia). Mas “A love supreme” nem é o meu disco preferido dele! Gosto mais de “Blue train”, “Lush life”, “Prestige 7105”, “Soultrane”, por exemplo. São tantas obras-primas seguidas que é até injusto citar alguma música.

A verdade é que não dá pra explicar. John Coltrane não é só jazz. É mais que isso (como Bergman e “Limite” etc etc). É bobo, mas é assim mesmo.

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