Música

O mais emocionante
Música
O mais emocionante
21 de janeiro de 2023 at 19:38 0
Eu não sei como explicar direito, mas acho que isso deve acontecer meio com todo o mundo: umas músicas batem diferente das outras. Sei lá, é como se elas tocassem um nervo que as outras não tocam. Normalmente os músicos, ou compositores, ou cantores, ou bandas, que têm músicas que “batem” aqui comigo estão no meu álbum “músicas” do Facebook. Sempre que vou colocar uma foto lá fico me perguntando se aquele músico compôs (ou interpretou) coisas que realmente tocaram aquele “nervo” metafórico. É engraçado isso: gosto de muita coisa dos Beatles, mas só umas quatro canções da banda realmente me tocam (e por causa delas a banda está no meu álbum). Oasis é outro grupo que gosto muito, mas acho que só “bate” mesmo – e olhe lá - a versão deles de “I Am The Walrus”, dos Beatles (e por isso a banda não está no álbum). E isso vale para todos os estilos que escuto: no meu álbum “músicas” têm compositores barrocos pouco conhecidos como Girolamo Frescobaldi (1583-1683) e Monsieur de Sainte-Colombe (1640-1700), mas nenhum russo (Tchaikovski, Mussorgski, Rachmaninoff, Prokofiev, credo). E tem gente lá por causa de umas três músicas, como o rapper americano Chamillionaire, e tem outros que eu tenho até tatuagens de tanto que curto (Arctic Monkeys, Stone Roses). E tem aqueles que sempre acho que poderiam constar do álbum “músicas”, como Eminem e Caetano Veloso, mas sempre acabo adiando a sua entrada. Enfim, quem dos músicos no meu álbum mais toca naquele “nervo” metafórico? Quem, dentro do espectro da música, mais – desculpem a expressão – me emociona? Pergunta difícil. Tenho umas dez camisetas do Nirvana. Tenho tatuagens em homenagem a The Weeknd e Ariana Grande. Morrissey e Bones ocuparam, em diferentes épocas da minha vida, durante uns dez anos no total, uns 90% do tempo em que eu ouvia música. O melhor show a que já assisti foi o da banda de metal belga Amenra. Fui um dos 0,2% top ouvintes do Radiohead no YouTube Music em 2022. Skip James e Mississippi Fred McDowell são dois bluesmen que fizeram músicas lindas demais. Mas acabei me surpreendendo com a minha conclusão: o cara que mais me emociona – desculpem de novo a breguice - na música é um cantor e compositor americano que se matou com duas facadas no coração em 2003, o Elliott Smith. Fã do supracitado Beatles, ainda por cima, e cujas músicas se parecem com as do Fab Four de vez em quando. Mas, quando escuto o que ele compôs e gravou, “bate” quase sempre. Mas eu nem devia me surpreender tanto com minha conclusão: afinal, alguns anos atrás eu escrevi sobre Elliott Smith um dos piores textos que já fiz na vida, para o Mondo Bacana: desculpem, eu estava emocionado demais.
Leia mais +
Arctic Monkeys (Pedreira Paulo Leminski, Curitiba, 8/11/2022)
Música
Arctic Monkeys (Pedreira Paulo Leminski, Curitiba, 8/11/2022)
13 de novembro de 2022 at 17:45 0
Cheguei na Pedreira Leminski a tempo de ver as últimas três músicas da banda de abertura, o Interpol. Já tinha visto o grupo no Lollapalooza de 2019, e novamente fiquei impressionado com a força de seu som, mesmo calcado um pouco além da conta no Joy Division. Longa vida ao Interpol, que recentemente abriu shows para Morrissey, não caindo no cancelamento fácil como tanta gente por aí. Pouco mais de meia hora de espera e chegou ao palco, praticamente no horário previsto, a grande atração da noite, o Arctic Monkeys - cujo símbolo da capa do álbum “AM” eu tenho tatuado na perna. A decoração do palco era belíssima, com uma cortina enorme na parte de trás e um painel de luzes logo atrás dos músicos, conforme a foto que acompanha este texto, obtida no site Suco de Mangá. Os telões funcionaram perfeitamente e, na maior parte do tempo, a câmera era voltada para o vocalista Alex Turner - normalmente com uma iluminação em tons pastéis, num efeito muito bonito. O show começou com “Sculptures of Anything Goes”, terceira faixa do recém-lançado álbum “The Car” (setlist obtido em setlist.fm), e aqui vale a pena fazer uma pequena digressão. O penúltimo disco do Arctic Monkeys, “Tranquility Base Hotel & Casino”, de 2018, já tinha representado uma virada drástica no energético rock da banda: o álbum era lento e, segundo a Wikipédia em inglês, ele foi caracterizado por diferentes críticos como “pop psicodélico, lounge pop, space pop e glam rock - e o álbum incorpora ainda influências do jazz, assim como de soul, prog, funk, pop francês e trilhas sonoras de filmes da década de 1960”: o fato é que o disco era tão esquisito que era de difícil classificação, e por isso foram utilizados tantos termos diferentes para representá-lo. Quanto a mim, não gostei muito de “Tranquility Base Hotel & Casino” nas primeiras audições, mas hoje acho que ele é tão bom quanto os demais – e a faixa-título é uma das minhas duas músicas preferidas do Arctic Monkeys. “The Car”, recém-lançado, vai na mesma linha do anterior, mas é ainda mais lento – e, do mesmo modo que aquele, cresce para mim a cada audição. Deste modo, era com curiosidade que eu queria saber como a plateia – a Pedreira Paulo Leminski não estava lotada, mas estava muito cheia – reagiria às músicas de “The Car”. No fim, o que aconteceu é que as músicas do novo álbum eram os momentos em que o público acendia as lanternas dos seus celulares, num efeito muito bonito. O show - que apresentou um belo apanhado dos grandes sucessos da banda, como “Cornerstone”, “Do I Wanna Know”, “Tranquility Base Hotel & Casino” (a canção), “Crying Lightning” e “Arabella” - foi uma celebração maravilhosa entre a banda e o público. Nada de conversa fiada, de frases simpáticas em português ou inglês, de piadinhas: a banda parece saber que qualquer distração atrapalha o sentido profundo de um show fora do comum. E o bis terminou com a minha outra música preferida da banda, “R U Mine?”.
Leia mais +
Músicas preferidas por artista ou banda
Música
Músicas preferidas por artista ou banda
3 de julho de 2022 at 18:28 0
Além de gostar de fazer listas, acho bacana saber qual a minha música preferida de determinado artista (seja cantor e/ou compositor) ou banda. Comecei a pensar no assunto e logo percebi que a lista de preferidas por artista seria grande, e resolvi escrevê-la. Quando o assunto é música clássica, não achei que faria sentido colocar uma peça inteira, como uma cantata ou sonata, mas sim um movimento dela, como um movimento ou um lied: achei que assim o conceito de uma “música preferida” seria mais coerente. Tem uma exceção, o Concerto para Violão de Heitor Villa-Lobos, que sempre ouvi inteiro. Também apareceriam artistas que quase não ouço, além de preferidos da casa. Não importaria, eu iria curtir todas as músicas da lista. Enquanto pensava no assunto, percebi, com alguma estranheza, que em poucos casos fiquei com dúvidas – lembro, por exemplo, de não saber qual de duas eu preferia de artistas ou bandas como The Smiths, Arctic Monkeys, Massive Attack ou Bhad Bhabie. Mas, em geral, foram casos isolados - e não colocarei a música alternativa aqui, porque a lista já está grande demais. Dei uma reconferida naquelas que eu não ouvia há muitos anos, para saber se elas ainda “batiam”, e só estão aqui as que “bateram” mesmo – quase todas. Em alguns casos um artista aparece mais de uma vez, mas a segunda aparição é sempre em participação (ver Ariana Grande e Cashmere Cat, por exemplo). Outras vezes (posso citar Bryan Ferry e Roxy Music), um mesmo artista aparece na sua banda e na sua carreira solo. Alguns dos músicos listados eu não gosto, mas aparecem aqui quando algum raro som me agrada: caso de  Queen e Red Hot Chilli Peppers, por exemplo. Segue, finalmente, a relação das minhas músicas preferidas de artistas ou bandas, sem nenhuma ordem de gênero ou preferência: a única ordem que respeitei é a da memória, ou seja, o que apareceu antes na minha cabeça apareceu antes na lista.
  • Massive Attack: Small Time Shot Away
  • João Gilberto: Manhã de Carnaval
  • The Beatles: Blackbird
  • Rolling Stones: Paint It Black
  • Johann Sebastian Bach: ária “Ach, mein Sinn”, da Paixão Segundo João, BWV 245
  • Bhad Bhabie: Gucci Flip Flops (feat Lil Yachty)
  • Lil Xan: Betrayed
  • João Gilberto: Manhã de Carnaval
  • Jorge Ben: Menina mulher da pele preta
  • Tom Jobim: Chansong
  • Marisa Monte: Balança Pema
  • Morrissey: Boxers
  • Arctic Monkeys: Tranquility Base Hotel & Casino
  • Selena Gomez: Back to You
  • Ariana Grande: 7 rings
  • Dua Lipa: Levitating
  • Prince: Darling Nikki
  • The Weeknd: Reminder
  • Justin Bieber: Company
  • Elvis Presley: Little Sister
  • Sam Cooke: Bring It on Home to Me
  • Mahalia Jackson: How I got over
  • Frank Sinatra: I've Got the World on a String
  • Billie Holiday: Strange Fruit
  • John Coltrane: Moment's Notice
  • Robert Schumann: I. Nicht schnell, de Three Romances for Oboe and Piano, Op. 94
  • Johannes Brahms: V. Mädchenlied "Auf die Nacht in der Spinnstub'n", de Fünf Lieder, Op. 107
  • João Mineiro e Marciano: Seu Amor Ainda É Tudo
  • The Doors: Riders on The Storm
  • Jimi Hendrix: All Along the Watchtower
  • Pink Floyd: Echoes
  • Led Zeppelin: In the Light
  • Black Sabbath: Behind the Wall of Sleep
  • Electric Wizard: Funeralopolis
  • François Couperin: II.Soeur Monique / Tendrement Sans lenteur - 18e ordre, 3e livre
  • Henry Purcell: Suite No.2 in G minor Z661
  • Ashley All Day: Hiyah
  • Giuseppe Tartini: terceiro movimento (grave), do Cello Concerto in D major GT 1.D34
  • Domenico Scarlatti: sonata K.20 in E major
  • Beastie Boys: Sure Shot
  • Velvet Underground: Venus in Furs
  • Roberto Carlos: O Divã
  • Lou Reed: Sword of Damocles
  • Bones: CtrlAltDelete
  • ZillaKami x SosMula: 33rd Blakk Glass
  • Demi Lovato: Stone Cold
  • $uicideboy$: Magazine
  • 6ix9ine: GUMMO
  • Neurosis: No River to Take Me Home
  • Amenra: A Solitary Reign
  • Velvet Cacoon: Genevieve
  • Burzum: Dunkelheit
  • Drudkh: Самітність (Solitude)
  • Charles Aznavour: Comme Ils Disent
  • Xasthur: Telepathic with the Deceased
  • Deathspell Omega: Second Prayer
  • GZA: 4th Chamber Feat. Ghostface Killah, Killah Priest & Rza
  • Wu-Tang Clan: Cash Still Rules / Scary Hours (Still Don't Nothing Move but The Money)
  • Cardi B: Bodak Yellow
  • DJ Khaled: Popstar ft. Drake
  • Drake: Nonstop
  • 21 Savage & Metro Boomin: X ft Future
  • Franz Schubert: Am Flusse I, D. 160: Verfließet, vielgeliebte Lieder
  • Skip James: Washington D.C. Hospital Center Blues
  • Lightnin Hopkins: Trouble in Mind
  • Sonny Boy Williamson II: Keep It to Your Self
  • Stevie Ray Vaughan & Double Trouble: Pride and Joy
  • B. B. King: The Thrill Is Gone
  • John Lee Hooker Official: Hard Times Blues
  • Mississippi Fred McDowell: Goin Down to the River
  • Muddy Waters: Got My Mojo Workin'
  • Sonic Youth: Kool Thing
  • Nirvana: Negative Creep
  • Radiohead: Fake Plastic Trees
  • Stone Roses: I Wanna Be Adored
  • The Cure: Killing an Arab
  • New Order: Paradise
  • Echo & The Bunnymen: Turquoise Days
  • The Smiths: Please, Please, Please, Let Me Get What I Want
  • The Jesus and Mary Chain: Never Understand
  • Ike & Tina Turner: Nutbush City Limits
  • The Shangri-Las: Past, Present and Future
  • Ramones: Blitzkrieg Bop
  • NOFX: Stickin' in My Eye
  • Husker Du: Could You Be the One
  • Sublime: Santeria
  • Korn: Falling Away from Me
  • Slipknot: Duality
  • System Of A Down: Chop Suey!
  • blink-182: All the Small Things
  • nothing,nowhere. : bedhead
  • Limp Bizkit: Nookie
  • Nick Drake: Day is Done
  • Elliott Smith: Between the Bars
  • Frédéric Chopin: Ballade No. 4 in F minor, Op. 52
  • Éric Satie: 3 Gymnopédies No. 1: Lent et douloureux
  • Egberto Gismonti: Dança das Cabeças, lado A
  • Villa-Lobos: Concerto para Violão
  • Chet Baker: Time After Time
  • David Bowie: Life on Mars?
  • Roxy Music: Oh Yeah
  • T. Rex: Mystic Lady
  • Bryan Ferry: The Right Stuff
  • Selena Gomez, Marshmello: Wolves
  • DJ Snake: Let Me Love You ft. Justin Bieber
  • Major Lazer & DJ Snake: Lean On (feat. MØ)
  • Dave Brubeck: Take Five
  • Cashmere Cat: Quit ft. Ariana Grande
  • Clean Bandit: Rockabye (feat. Sean Paul & Anne-Marie)
  • Anne-Marie: Alarm
  • Ellie Goulding: Love Me Like You Do
  • Diplo: Color Blind (feat. Lil Xan)
  • Miles Davis: 'Round Midnight
  • Louis Armstrong & Jack Teagarden: Rockin Chair
  • Thelonious Monk: Little Rootie Tootie
  • Charlie Parker: Hot house
  • Dre: Still D.R.E. ft. Snoop Dogg
  • Snoop Doggy Dogg: Tha Shiznit
  • Fetty Wap: 679 feat. Remy Boyz
  • Eminem: Without Me
  • Kreayshawn: Go Hard (La.La.La)
  • Rick Ross: Hustlin'
  • Chico Buarque: Samba de Orly
  • Milton Nascimento: Ponta de Areia
  • Rita Lee: Ovelha Negra
  • Caetano Veloso: Terra
  • Gal Costa: Coração Vagabundo
  • Maria Bethânia: Três Apitos
  • Evaldo Braga: Tudo Fizeram Pra Me Derrotar
  • Agnaldo Timóteo: A Casa do Sol Nascente (The House of the Rising Sun)
  • Robert Johnson: Me and the Devil Blues
  • Luiz Gonzaga: Respeita Januário
  • Tim Maia: Azul da Cor do Mar
  • Gilberto Gil: Pai e Mãe
  • The Sex Pistols: Anarchy In The U.K
  • The Stooges: I Wanna Be Your Dog
  • Lil Darkie: Methhead Freestyle (Ft. Spider Gang & Friends)
  • Olivier Messiaen: VI. Jardin du Sommeil d’amour, Très modéré, très tendre, da Sinfonia Turangalila
  • Gustav Mahler: Das Lied von der Erde (Der Abschied)
  • Ludwig van Beethoven: II. Adagio un poco mosso, do Concerto n.5 para Piano e Orquestra, op. 73
  • Mozart: Piano Sonata No. 5 in G, K.283 - 1. Allegro
  • Georg Friedrich Händel: Suite in D Minor, HWV 428: IV. Air & 5 variations
  • Queen: Another One Bites the Dust
  • Kyuss: Supa Scoopa And Mighty Scoop
  • Queens Of The Stone Age: Go With The Flow
  • Girolamo Frescobaldi: Toccata Settima
  • Red Hot Chili Peppers: Californication
  • Ministry: Jesus Built My Hotrod
  • Behemoth: Christians to The Lions
  • Wiegedood: Ontzieling
  • Darkthrone: Transilvanian Hunger
  • Immortal: Sons of Northern Darkness
  • Oasis: Champagne Supernova
  • Blur: Song 2
(foto que acompanha o texto: Bones com camiseta do Darkthrone, obtida na página oficial do Bones no Facebook)
Leia mais +
The highlights, The Weeknd
Música
The highlights, The Weeknd
22 de maio de 2022 at 16:44 0
Eu gosto de comprar CDs. Acho bacana como uma lembrança, ou coisa assim, dos artistas que admiro.  Para mim, que tenho seis gatos em casa, os CDs têm uma vantagem sobre os LPs: não são uma tentação para os felinos brincarem com um prato girando com uma agulha em cima. Além disso, os antigos discos de vinil também ocupam muito espaço: me desfiz de todos os que eu tinha há mais de quinze anos e nunca me arrependi. E ainda há mais uma vantagem dos CDs sobre os LPs, sob meu ponto de vista: é possível conseguir lançamentos de disquinhos prateados por um preço razoável, ao contrário do que acontece com os vinis. Sim, gosto de CDs mas não de gastar muito dinheiro com isso: como não costumo comprar discos usados, acabo conseguindo por preços módicos lançamentos nacionais de artistas populares como Elvis Presley, The Weeknd, Ariana Grande e Selena Gomez, mas não de outros artistas que também gosto, como Amenra, Wiegedood, Radiohead ou Massive Attack. Isso sem contar Bones e $uicideboy$, né, que não lançam CDs. Morrissey é um caso especial: comprei “Low in high school”, o penúltimo que ele lançou, mas não o mais recente “Dog in a chain”, que não teve versão nacional. E foi numa dessas que acabei comprando “The highlights”, do Weeknd. Coisa de maníaco mesmo: as melhores músicas de um artista que não só eu conheço bem, como tenho em CDs toda a sua obra recente. Mas ficou legal no Instagram, e é a foto que acompanha este texto. Até que comecei a ouvir, e acabei ficando mais e mais surpreso: todos os clássicos dele juntos me deram a impressão de estar ouvindo algo raro, um verdadeiro álbum atemporal. A voz, as melodias, os arranjos… é um equivalente musical de um volume de obras essenciais de algum grande escritor na coleção Penguin-Companhia. E olha que o CD nem tem minha música preferida do Weeknd, “Reminder”, sobre a qual já falei aqui.
Leia mais +
“Psychocandy”, de Jesus and Mary Chain
Música
“Psychocandy”, de Jesus and Mary Chain
21 de novembro de 2021 at 18:06 0
Ao contrário de muita gente, não sou saudosista quando o assunto é música. Você nunca vai me ouvir falar a famosa frase “boa mesmo era a música do meu tempo”, por exemplo. Esta falta de apego ao que eu ouvia pouco tempo antes acaba, de maneira engraçada, me fazendo ser um sujeito meio irritante para os meus amigos que continuam ouvindo estilos que eu fui praticamente parando de ouvir com o tempo. É do jogo. O legal de ser esse sujeito verdadeiramente infiel a estilos musicais é que, muito tempo depois de ter parado de ouvir alguma coisa, um belo dia me dá saudade e resolvo conferir o que já não escutava há anos – ou mesmo décadas. Um bom exemplo aconteceu ano passado, quando parecia que eu estava de novo nas minhas aulas no cursinho, na década de 80, quando coloquei para ouvir a coletânea “Standing on a beach”, do Cure. Em outros casos a coisa vem bem mais forte, e é sobre um disco específico que comprei nos anos 80 que vou comentar aqui. A primeira revista Bizz que comprei foi a de número 12, aquela famosa com a Patsy Kensit (que iria deixar a Madonna para trás, veja só) na capa. Enfim, nesta edição tinha uma crítica do grande José Augusto Lemos (sempre ele) falando maravilhas de “Psychocandy”, o primeiro disco de uma banda que eu nunca tinha ouvido falar, o Jesus and Mary Chain. O texto (que coloquei aqui para quem quiser ler; coloquei também aqui uma entrevista da banda, com Pepe Escobar, publicada na mesma edição) começava com a sensacional frase “não é propriamente uma revolução e sim um exercício de radicalismo, que segue uma lógica safada de venenosa”, e continuava comentando que o melhor do pop feito até então tinha duas vertentes, a “melodiosa e assobiável” de um lado, e o “barulho afiado do rock pós-Velvet Underground” do outro. José Augusto Lemos então conclui que o “Jesus & Mary Chain, num caso de inédita esquizofrenia, opta simultaneamente pelas duas linhas e o resultado dá num bombom recheado de cereja e ácido sulfúrico” – e por aí vai o genial texto. A crítica era tão maravilhosa que “Psychocandy” acabou sendo o primeiro dos muitos discos que comprei por causa da Bizz. O choque foi imediato e duradouro, e o álbum foi um dos que mais ouvi naqueles anos: a junção de melodias assobiáveis com uma microfonia maluca me pegou de jeito, na hora. Depois a banda lançou “Darklands”, sem barulho e só com a parte mais “sensível” da banda, e acabei perdendo o interesse no Jesus and Mary Chain. Até que um tempinho atrás descobri, por um amigo, que se podia ler todas as revistas Bizz online (aqui) e resolvi revisitar a crítica do “Psychocandy” - e acabei o escutando novamente o disco, com muita atenção. O álbum é tão bom - ou ainda melhor - do que me lembrava. De todo modo, tenho medo agora do que vou achar de “Darkland” e dos discos posteriores da banda; quem sabe os escute ainda, um dia.
Leia mais +
Marília Mendonça (1995-2021)
Música
Marília Mendonça (1995-2021)
6 de novembro de 2021 at 01:43 0
Assisti há alguns poucos anos um documentário sobre uma tournée de Marilia Mendonça, e gostei muito dela: uma moça de inteligência incomum, gentil, extremamente compenetrada. Nunca fui fã de ouvir suas músicas, mas sempre que escutava alguma delas gostava, apesar de não apreciar, normalmente, o sertanejo moderno. Mas eu sentia que ela tinha algo a mais – só não sabia bem o que era. Recebi a notícia de sua trágica morte por um telefonema da minha mãe e, no meu telefonema diário para meu pai, descobri que ele ficou triste de verdade. Uma tia da minha mulher chegou a passar mal quando soube da morte da cantora. Minha filha, que também praticamente não escuta sertanejo, também ficou triste. Vendo reportagens sobre sua carreira e sua morte, acho que consegui descobrir a diferença de Marília Mendonça em relação a quase todos os cantores, sejam eles do estilo que forem: ela cantava de modo verdadeiro. Ela era como outros intérpretes que captam, de alguma maneira, algo que os outros não captam. E é por isso que o Brasil está tão triste hoje. Descanse em paz, Marília Mendonça.
Leia mais +
Meus clipes preferidos
Música
Meus clipes preferidos
31 de outubro de 2021 at 20:55 0
Gosto muito de assistir a clipes de música. Seja pela música em si, seja pela filmagem, seja por alguma outra coisa, alguns deles eu vejo muitas vezes. Fiz uma lista deles, que seriam os meus preferidos, ou coisa assim:
  1. Hiyah - Ashley All Day: já falei sobre esse clipe aqui. Imagens de Ashley All Day na cozinha, com amigas e com o então marido, e em lugares de Los Angeles. E nada mais.
  2. Dance Again - Selena Gomez: também já comentei aqui sobre esse clipe, que mostra a cantora dançando. O vídeo foi gravado antes da pandemia, mas foi lançado depois do seu início: ficou meio estranho uma música tão feliz naquele momento, mas quem se importa?
  3. Color Blind - Diplo feat. Lil Xan: descoberta minha recente, Lil Xan é um menino com tatuagens assustadoras e com problemas com drogas, mas parece boa gente. Color Blind é uma obra-prima, e o vídeo, vá lá, é meio estranho e assustador.
  4. Heart-Shaped Box - Nirvana: tendo a preferir as apresentações ao vivo do que os clipes do Nirvana, mas este, famoso, com cores estouradas e imagens de uma religiosidade meio absurda, é perfeito.
  5. Fake Plastic Trees - Radiohead: a banda e pessoas de várias idades e estilos por um corredor de supermercado cheio de produtos de forma semelhante e cores distintas. Difícil um dia que eu não assista a este vídeo.
  6. Reminder - The Weeknd: já falei sobre este clipe aqui, que parece se passar num paraíso diferente.
  7. Tranquility Base Hotel & Casino - Arctic Monkeys: Alex Turner é funcionário e hóspede de um hotel de luxo e canta uma música que, com o tempo, vai se transformando numa das melhores da banda.
  8. Nonstop - Drake: um clipe em preto e branco, filmado em Londres, em que algumas imagens me lembram filmes noir. Ou é coisa da minha cabeça.
  9. DontLookDown - Bones: chuva, um filtro verde e uma música maravilhosa.
  10. destruction - nothing,nowhere. x Travis Barker: esse aqui tem um filtro vermelho e uma moto numa estrada numa floresta no meio do mato.
Leia mais +
“Pieces of You”, de nothing,nowhere.
Música
“Pieces of You”, de nothing,nowhere.
18 de outubro de 2021 at 23:12 0
Lembro bem da minha emoção quando o disco “Reaper”, do nothing,nowhere., esteve numa relação do jornal New York Times como um dos melhores discos do ano de 2017. Alguns meses antes eu tinha ficado simplesmente embasbacado com “the nothing,nowhere.lp”, ainda na época em que a banda só lançava músicas no YouTube (e no SoundCloud também). O único membro do grupo, John Mulherin, era tão esquivo que sempre escondia o rosto em fotos e clipes. Criei um grupo de fãs no Facebook, e escrevi nele textos sobre a banda que até hoje reputo entre as melhores coisas que já escrevi – a ponto de eu tê-los colocado no meu terceiro livro publicado, “Rua Paraíba”. De lá para cá nosso amigo John Mulherin parece ter encontrado o caminho do sucesso: sempre participa de festivais, realiza shows em diversos países e chegou a gravar um EP com o baterista do Blink 182, Travis Barker. Sua música se tornou mais raivosa, mais pop, menos melancólica - e ele não se esconde mais o rosto. E ele gosta de brincar de vez em quando. No clipe de “nightmare” ele se veste como um cantor de hard rock brega dos anos 80, com mullets brancos, roupa chamativa e óculos escuros - e fica fazendo micagens o tempo todo para a diversão de diversos personagens pouco afeitos ao rock que aparecem no clipe, como idosos e gente com roupas quase tão bregas como a que ele está usando. No clipe mais recente, “Pieces of You”, ele toca numa banda que aparece de surpresa num casamento num asilo de idosos. O clima, feliz, parece retirado diretamente de um Sessão da Tarde. Se você quiser saber, é lindo demais. Não me arrependo de ter tatuado o nome da banda nas minhas costas.
Leia mais +